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sexta-feira, 8 de abril de 2011

Amor e Relacionamento Humano na Psicoterapia e na Vida

Engraçado como as vezes um tema se torna recorrente em nossas vidas.

Nas últimas semanas, venho lendo "O Encontro Analítico", de Mario Jacoby (diga-se de passagem, leitura indispensável a qualquer terapeuta junguiano, fala da transferência na Psicologia Analítica), e essa leitura tem me feito refletir sobre algo que desde que conheço essa abordagem (há cerca de 10 anos) me encanta: a importância do relacionamento humano.

Com a leitura desse livro, vieram conversas sobre o tema com diversos alunos e pacientes quase psicólogos. Como é natural do ser humano, todos se cobram muito, se exigem ter respostas a dar aos pacientes, desejam corresponder às expectativas destes, e a todos eles tenham dito: e se você só estiver ali? De corpo, alma, mente.

Digo isso porque, parando para pensar, quantas pessoas estão presentes para nós? De corpo, alma, mente? Quantas pessoas nos olham e realmente nos veem? Quantas pessoas não se preocupam em nos dizer o que fazer, como agir, se estamos certos ou errados? Quantas pessoas nos aceitam, nos escutam, nos acolhem?

Poucas! Muito poucas! E mesmo as que o fazem, só o fazem de vez em quando, afinal, a vida anda enquanto paramos...

Por isso me encanta a ideia de Jung de que a base do trabalho terapêutico é o relacionamento humano. É o encontro de duas almas baseado no amor fraterno.

Alguns perguntariam se se deve ou pode amar um paciente, se as coisas não ficam misturadas demais, se se consegue manter a neutralidade assim.

E eu responderia: mas as coisas já não são misturadas??? Como não me misturar a uma pessoa que se coloca à minha frente, falando de suas dores, toda semana, durante 50 minutos, por anos a fio?
Com relação à neutralidade, creio que ela pode ser mantida sim, se considerarmos neutralidade a capacidade de observar os fenômenos psíquicos que acontecem na pessoa que nos procura, se tivermos muito clara qual o nosso papel enquanto terapeuta.

Agora, com relação ao amor, sou bem radical: para que um bom trabalho aconteça, o amor na relação é imprescindível!!!

O amor de que falo é o amor por essa alma que me procura, amor esse que parte do amor pelo ser humano como vida, como uma pessoa que, como eu, sofre, chora, ama, odeia, necessita ser amado.

Agora, ampliando isso, me questiono se não é justamente esse amor pelo próximo que falta em nosso mundo atual. Num mundo onde a razão é a base de tudo, onde nos relacionamos com as pessoas e as situações como objetos que controlamos ou que nos controlam, sinto falta do olhar para a alteridade da pessoa, de fato me relacionar com ela amorosamente, e não estabelecer uma relação de poder!!!

Um dia depois do grande massacre numa escola no Rio de Janeiro (fato aliás que me motivou a escrever aqui), fico pensando novamente: não seria amor pelo próximo que falta no coração das pessoas???? Como dói e incomoda sentir essa falta de amor, o egoísmo, a onipotência...

Por isso, se puder dar amor às pessoas que me procuram no meu micromundo que é meu consultório, fico um pouco menos sentida e incomodada, pois tenho certeza de que se aquela pessoa sair de lá se amando e amando ao próximo um pouco mais, terei contribuído para uma grande transformação na vida dela e em como ela irá se relacionar com o mundo e com as pessoas.

Entenderam agora por que me encanta um trabalho que se baseia na importância do relacionamento humano???

sábado, 2 de abril de 2011

"A liberdade do nosso ego não repousa na escolha das cartas, mas na descoberta ou no desenvolvimento das melhores táticas possíveis, em termos das cartas que por acaso temos nas mãos, contra nosso admirável antagonista, o Self, nosso ser oculto e básico, do qual nosso 'eu' parece ser apenas uma estrutura temporária e passageira, mas uma estrutura que é levada e impelida a dar o melhor de si mesma, a jogar para ganhar e, de fato, por sua própria vida" (Whitmont, A Busca do Símbolo, p. 228)
"Finalmente, quando resolvemos tentar acompanhar os novos anseios e tentamos utilizar nossa força de vontade para nos transformar, descobrimos que não podemos almejar aquilo que queremos, que não podemos nos tornar diferentes através do esforço direto, que somos solicitados a servir a dois senhores, por assim dizer, o passado embutido habitual e a exigência opositora do futuro, e que toda tentativa para servir a um provoca a oposição do outro" (A Busca do Símbolo - Whitmont)