A grande novidade desse mês de julho é o Curso de Férias que estou oferecendo com minha grande parceira, Marcela Tílio!
Alunos e psicólogos sempre me perguntam muito sobre como aplicar toda a complexa teoria de Jung na prática, qual o método da psicoterapia junguiana e quais as técnicas utilizadas. Pensando nisso, e a partir da paixão que eu tenho pelas técnicas utilizadas em psicoterapia na Psicologia Analítica, montamos esse curso de 16 horas, que irá combinar uma apresentação teórica da psicoterapia, símbolos e corpo, e sua aplicação prática através das técnicas da interpretação de sonhos, caixa de areia, imaginação ativa e calatonia. Além disso, reservamos alguns momentos para vivências de TODAS as técnicas.
Tenho certeza de que será muito legal!!! Tanto para quem tem curiosidade para conhecer tudo isso, quanto para quem pretende um aprofundamento!
Esperamos vocês lá nos dias 21 e 22 de julho!!!
quinta-feira, 12 de julho de 2012
segunda-feira, 25 de junho de 2012
Roda de Conversa – Refletindo sobre as Coincidências Significativas da Vida
Abaixo segue o material que utilizei na Roda de Conversa!
2º Workshop Terapêutico
Nada é por Acaso: Sincronicidade e a Teoria das Possibilidades
Roda de Conversa – Refletindo sobre as Coincidências Significativas da
Vida
Já falamos da importância dos
fatores tempo e significado. Agora vou trazer um pouco da teoria da Psicologia
Analítica e com isso um novo fator importante: o arquétipo.
Jung transcende o antigo paradigma
e fala da psique como complexo sistema
autorregulador, caracterizado pela dinâmica
entre opostos.
Inconsciente coletivo ou camada arquetípica do inconsciente (camada
mais profunda do inconsciente, universal e congênita – condição presente ao
nascimento) = relaciona o homem ao passado da evolução do ser humano, arqueologia
viva da psique; constituído por natureza
psíquica comum a todos os seres humanos à
está envolvido em eventos sincronísticos
Arquétipos são o que constituem o inconsciente coletivo: padrões de comportamento instintivo à “há tantos arquétipos
quantas situações típicas houver na vida. A repetição infinita gravou essas
experiências dentro de nossa constituição psíquica” (Jung).
Exemplos de situações
arquetípicas: nascimento ou morte, casamento, laços entre mãe e filho, lutas
heroicas à relacionamentos
e conflitos levantados nos mitos e contos de fadas.
Inconsciente coletivo:
comporta-se “como se fosse uno, e
não como se fosse fracionado entre vários indivíduos” (Jung).
O inconsciente como fonte criativa, é como o mar trazendo vida e também
devolvendo à praia o lixo acumulado nas águas. Nele está o passado, o presente
e o futuro: todas as imagens de nós mesmos e do mundo que nos cerca.
Psique (totalidade consciente e
inconsciente) = campo de um continuum espaço-tempo à continuum de experiências ancestrais e futuras.
Fenômeno de sincronicidade é
constituído por uma imagem inconsciente
que alcança a consciência de maneira direta ou indireta, e por uma situação objetiva que coincide com este
conteúdo, e o que liga estes dois
aspectos é a simultaneidade e o significado. Este significado ou sentido
não é um conhecimento ligado ao eu, mas um conhecimento inconsciente
subsistente em si mesmo, e Jung chama de conhecimento
absoluto.
“No palpitar da vida que se acha
imediatamente presente agora em cada um de nós, há um pouco de passado, um
pouco de futuro, e um pouco de consciência, de nosso próprio corpo, de cada uma
das pessoas, da geografia da Terra, da direção da história, de verdade e de erro,
de bom e de mau e de quem sabe quantas coisas mais?” (William Blake)
Self ou Si-Mesmo = percepção
interior de um centro numinoso à
suspender a necessidade de definir o lugar que o Self ocupa no espaço, isso
ajuda a compreensão; pressentir uma
energia divina é a experiência à
o que vivenciamos internamente quando sentimos uma relação com a unidade, é o Self
Self, enquanto nossa essência, aquilo que realmente somos, seria
aquilo que dá significado aos eventos de
nossa vida. Se partimos do ponto de que há uma interligação dos mundos
internos e externos, as coincidências desses dois mundos nas quais vemos
significado, teriam significado
atribuído pelo Self.
Há tendência para as coisas
ocorrerem juntas. Se certo arquétipo está constelado no inconsciente coletivo,
então certos eventos tendem a constelar juntos à
Há uma conexão entre a sincronicidade e
um arquétipo ativo no inconsciente coletivo.
Disse tudo isso, para na verdade
chegar ao ponto de afirmar que há eventos em nossa vida que não se explicam
causalmente, mas que podem ser compreendidos de outra forma, essa compreensão poderia surgir espontaneamente,
sem nenhum raciocínio lógico. A esse tipo de compreensão instantânea Jung dava
o nome de insight.
A sincronicidade depende da
atividade da psique; quanto mais voltado para fora, racional, menos se percebe
ou acontece sincronicidade.
Sincronicidade pode ter um papel
central na individuação ou na maturação psicológica.
3 tipos de sincronicidade:
1.
Coincidência entre o conteúdo mental (pensamento
ou sentimento) e evento externo. Exemplo: Paciente resistente, sua dificuldade
era que pretendia sempre saber melhor as coisas do que os outros, muito
racional. Depois de algum tempo tentando trabalhar isso pela via da razão, Jung
diz que se limitou à esperança de que algo inesperado e irracional acontecesse,
quebrando sua racionalidade. Um dia, ela contava um sonho no qual alguém lhe
dava um escaravelho de ouro de presente (joia preciosa), enquanto contava, Jung
ouve um barulho atrás dele, na janela, de um inseto batendo no vidro, com
intenção de entrar, abre o vidro e é um besouro cuja cor verde dourada torna-o
muito semelhante ao escaravelho de ouro. Ele estendeu o animal a ela dizendo
“Está aqui seu escaravelho”. Isso abriu brecha no racionalismo, rompendo o gelo
da resistência intelectual à
este fato foi uma coincidência misteriosa, e este tipo de situação costuma
atingir um nível profundo de sentimentos na psique à escaravelho é um símbolo
egípcio do renascimento ou da transformação, “ele” precisava entrar na análise,
com sua entrada pôde-se iniciar a transformação de uma atitude rígida, e um
novo crescimento pôde ocorrer.
2.
Sonho ou visão que coincide com acontecimento
que está ocorrendo a certa distância (isso é comprovado mais tarde): percepção
do que está acontecendo sem a utilização de nenhum dos 5 sentidos.
3.
Sonho ou visão de algo que ocorrerá no futuro e
que acontece.
Nos 3: coincidência de um evento
real com um pensamento, visão, sonho ou premonição.
É o participante quem determina se as coincidências são significativas,
através de seus sentimentos. Para compreender plenamente o que é um episódio
sincronístico, talvez seja necessário vivenciar
uma coincidência misteriosa e sentir as reações emocionais espontâneas.
Desta forma, adota-se uma atitude investigativa diante de um
evento sincronístico, supondo-se que o evento tenha um significado que pode ser
desvendado.
O que muda é que passamos a olhar
para as coisas como símbolos, ou
seja, como aspectos carregados de um significado profundo, que vai além da
coisa em si.
Adotando essa postura
investigativa, diante de uma ocorrência do acaso, nos perguntamos: “O fato é sincronístico?”; se a
resposta for positiva, desejo saber seu significado.
Não olhar para os eventos, nem como vítima nem como culpado, mas
se perguntar se o evento está dizendo
algo sobre alguma situação interna em sua vida. Quando aceitamos a ideia de
sincronicidade, qualquer acontecimento
pouco usual é um convite para parar e pensar.
Estudos afirmam que sonhamos
entre 6 a 8 vezes cada noite. Eventos sincronísticos ocorrem à nossa volta todos os dias, mesmo sem os notarmos à passei a perceber mais
eventos sincronísticos enquanto preparava essa fala.
Vou agora dar algumas dicas de
como compreender um evento sincronístico (também se aplica ao sonho):
1º: Averiguar
a respeito do contexto emocional em que ocorreu. O que estava incomodando? Qual
era o problema emocional que necessitava de solução? Como estavam as coisas, o
ânimo interior e as circunstâncias exteriores?
2º: Ter a
curiosidade de saber o que as pessoas, animais ou coisas envolvidas no evento
podem significar e o que isso tem a ver com você.
As coincidências significativas
sempre acontecem em momentos de transição.
Vamos começar a pensar agora, em
situações sincronísticas em nossas vidas.
As primeiras que vem à cabeça são
obvias, mas talvez nunca tenham parado para pensar nisso: nosso nascimento e nossa morte dão grande significado às nossas vidas.
Outros exemplos claros são a gravidez
e o parto, que acontecem em seu próprio tempo, apesar de nossos desejos
conscientes, esperanças, esforços e fantasias. Uma gravidez e um parto merecem
nada mais serem chamados de sincronicidade: a coincidência do acaso de um dos
milhares de espermatozoides encontrar um óvulo em especial, se desenvolver de
determinada maneira e desse bebê nascer em determinado momento.
Trabalho
O trabalho ocupa uma posição
central em nossas vidas e, como sempre, a sincronicidade aparece onde quer que
haja – ou precise haver – maior compreensão da história que estamos vivendo no
dia-a-dia.
Em várias das histórias de
coincidências significativas na vida profissional, aparece a aceitação do fracasso que parece quase
que necessária antes que se possa seguir em frente.
Espiritualidade
Nossa fé e religião também não
deixam de ser eventos sincronísticos. Cremos naquilo que vemos e ouvimos e que
se conecta diretamente ao que faz sentido internamente para nós.
Doenças e Acidentes
Conseguem pensar como doenças
seriam sincronicidades?
A doença é uma manifestação
física, que não é causada por um aspecto psíquico, mas tem total relação de
significado com ele.
Relacionamentos
O amor entre duas pessoas é
basicamente uma coincidência, duas vidas que se cruzam ao acaso à sincronicidade nas
relações amorosas e de amizades.
Uma das características do
acontecimento sincronístico é que ele é único, sem repetição, uma experiência
única na vida, bem como os encontros.
Quando eventos sincronísticos
acontecem em nossas vidas amorosas, podem funcionar de duas formas diferentes
para atingir nossa consciência: as
vezes contrariam a direção que
escolhemos, mostrando algo novo
a nosso respeito e nosso relacionamento; e outra, pode confirmar e consolidar um relacionamento sobre o qual temos
dúvidas.
Pensando a partir desse
princípio, podemos concluir que amor não é uma questão de pessoa “certa” versus pessoa “errada”, mas muito mais
uma questão da nossa atitude interna e
de como essa atitude cria um momento especial em nossas vidas, quando podemos encontrar uma outra pessoa em
seus próprios termos.
Acontecimentos sincronísticos também
acontecem nas amizades, pois a amizade também é sempre uma coincidência, duas
pessoas se encontram e suas vidas se tornam entrelaçadas.
Todo relacionamento é um tipo de
sincronicidade: um acontecimento único no qual um encontro externo entre as
pessoas assume um significado emocional, simbólico e transformador.
“O encontro de duas personalidades é como o
contato de duas substancias químicas: se houver alguma reação, ambos sofrem uma
transformação”. (Jung)
Algumas pessoas tem encontros
sincronísticos nos quais o mesmo tipo de
personalidade ou as mesmas figuras arquetípicas reaparecem continuamente.
A constatação de que “uma outra
versão daquele personagem simbólico está aparecendo novamente” é uma ajuda. O reconhecimento do padrão é o início da
sensatez, porque permite que alguém observe, em vez de ser puxado,
independentemente de sua vontade, em direção à pessoa detentora de uma carga
emocional específica.
Relação Terapêutica
Para que o processo analítico
seja eficiente, é preciso também que haja uma profunda ligação. O relacionamento toca elementos do inconsciente
pessoal e coletivo, tanto do analista como do paciente.
No processo analítico, parece
frequente o analista e o paciente estarem num estado de transe leve, suave e compartilhado. Face a face, em
cadeiras separadas, refletem inconscientemente suas posições corporais e gestos
recíprocos, ao mesmo tempo que compartilham
profundamente o material e os sentimentos.
Muitos encontros sincronísticos
acontecem na clínica: os caminhos que a pessoa percorre até chegar até mim, um
horário que se abre exatamente para que seja possível atender aquela pessoa à sensação de
“inevitabilidade”. Esses encontros também são muito importantes para o
terapeuta, contribuindo para o nosso crescimento.
O encontro é sincronístico não só
para o paciente, mas também para o terapeuta. Jung considerava o processo
analítico como algo similar à reação
alquímica – para que um dos elementos se transforme no decorre do processo
(paciente), o outro também tem de ser afetado (analista). Parece que meus
pacientes passam pela porta de meu consultório acompanhados da oportunidade e
da necessidade de trazerem a tona
aspectos de mim mesma. Seja o que for aquilo de que eu ainda precise me
conscientizar, seja qual for o calcanhar de Aquiles, seja qual for o meu
momento crítico de crescimento, este chegará à minha porta sincronisticamente.
Hidrogênio + Oxigênio (gases) =
água (terceiro elemento, líquido) à
transmutação
Símbolo = 3º elemento do sistema
terapeuta-paciente
Espaço-tempo terapêutico = campo
de inter-relação dos sistemas terapeuta e paciente à esses sistemas entram em
ressonância por meio das constelações simbólicas que vão ocorrendo ao longo do
processo transferencial.
Campo terapêutico = campo simbólico por excelência; todos
os fenômenos emergentes podem ser compreendidos no seu caráter simbólico.
Tempo aparece no seu duplo
aspecto: Chronos e Kairós.
Transformações no campo
terapêutico ocorrem em duplo sentido: no terapeuta e no paciente à toda transformação vai
requerer um renascimento, um sacrifício de uma atitude dominante em prol da
totalidade.
Se lembram de situações que
foram percebidas como sincronicidade na terapia e que por fim trouxeram
transformações?
O novo paradigma e a Psicologia
Analítica nos propõem uma visão da prática clínica na qual terapeuta e
pacientes estejam em relação de reciprocidade à
interagem nos aspectos conscientes e inconscientes, formando um sistema em
contínua transformação.
Seguindo o caminho do coração
Instrumento para a transformação
individual: se uma pessoa pode reconhecer
um problema interior ao ver o modelo refletido na situação exterior, pode
então assumir a responsabilidade pela
transformação.
Encontros sincronísticos =
espelhos (refletindo de volta para nós algo de nós mesmos) à se nos transformarmos
interiormente, os padrões de nossa vida exterior também mudarão
Escolher um caminho com o coração
= aprender como seguir a batida interior do sentimento intuitivo
Grandes decisões = lógica + coração
Passado = vivo, atua como padrões
de comportamento; quando ressignificado, possibilita novas vivências de
presente e futuro
Futuro = à medida que nos
projetamos no futuro abrindo novas possibilidades de vivências, resignificamos o
presente e o passado
Eventos sincronísticos nos impõem
uma verdade sobre nossas vidas que
muitas vezes temos o hábito de ignorar: que o sentido de nossas vidas, a trama da historia da nossa vida, não é
escrita simplesmente pelo que sabemos de
nós mesmos, mas vem de um ponto muito mais profundo, da nossa capacidade humana inata de experimentar a
totalidade vivendo uma vida simbólica.
Como vimos, as sincronicidades
vem de formas diferentes, e, na verdade, não existe uma área de sua vida que
num momento ou outro não seja tocada pelo acaso.
A questão é o que fazemos
quando uma virada acidental do destino reorganiza nossas vidas e nos mostra
algo que não esperávamos. Nós damos as costas e negamos sua veracidade? Ou
encaramos aquilo que não provocamos nem criamos em nossas vidas com abertura de
espírito, interesse e seriedade? Conseguem pensar nisso?
É quase sempre impossível alterar
o padrão de como as coisas acontecem no mundo exterior, enquanto que mudar
aquilo que se vê como problemático na própria psique, apesar de difícil, é
possível.
Aula Dialogada - Nada é por Acaso: Sincronicidade e a Teoria das Possibilidades
Nosso Workshop aconteceu no último sábado e novamente foi maravilhoso!
Abaixo disponibilizo para quem se interessar o material da minha aula dialogada! Espero que gostem!
2º Workshop Terapêutico
Nada é por Acaso: Sincronicidade e a Teoria das Possibilidades
Aula Dialogada – Sincronicidade: um princípio de conexões acausais
A ideia hoje é que possamos
pensar nos eventos da vida e em como o que está dentro de nós e o que está fora,
estão interligados.
A Marcela trouxe uma fala
essencial para nós, que abrange mais a visão da terapia holística e da física
quântica, explicando como é possível que eventos de diferentes ordens, mas aparentemente
ligados, tenham relação um com o outro.
Eu trago uma explicação mais da
psicologia.
Antes, gostaria de contar a vocês
um conto indiano. Há muitas versões desse conto, eu escolhi uma delas para
contar hoje.
UM CONTO INDIANO
“Há muitos anos vivia na Índia
um rei muito sábio e muito culto, já havia lido todos os livros de seu reino.
Seus conhecimentos eram numerosos como os grãos de areia do rio Ganges. Muitos
súditos e ministros, para agradar o rei, também se aplicaram aos estudos e às
leituras dos velhos livros. Mas viviam disputando entre si quem era o mais
conhecedor, inteligente e sábio.
Cada um se arvorava em ser o
dono da verdade e menosprezava os demais. O rei se entristecia com essa
rivalidade intelectual. Resolveu, então, dar-lhes uma lição.
Chamou-os todos para que
presenciassem uma cena no palácio. Bem no centro da grande sala do trono
estavam alguns belos elefantes. O rei ordenou que todos os soldados deixassem
entrar um grupo de cegos de nascença.
Obedecendo às ordens reais, os
soldados conduziram os cegos para os elefantes e guiando-lhes as mãos,
mostraram-lhes os animais. Um dos cegos agarrou a perna de um elefante; outro
segurou a cauda; outro tocou a barriga; outro, as costas; outro apalpou as
orelhas; outro a presa; outro a tromba.
O rei pediu que cada um
examinasse bem, com as mãos a parte que lhe cabia. Em seguida, mandou-os vir à
sua presença e perguntou-lhes:
- Com que se parece um
elefante?
Começou uma discussão
acalorada entre os cegos.
- O elefante é como uma coluna
roliça e pesada.
- Errado! – interferiu o cego
que segurou a cauda. – O elefante é tal qual uma vassoura de cabo maleável.
- Absurdo! – gritou aquele que tocou a barriga. – É uma parede curva e tem a pele semelhante a um tambor.
- Absurdo! – gritou aquele que tocou a barriga. – É uma parede curva e tem a pele semelhante a um tambor.
- Vocês não perceberam nada –
desdenhou o cego que tocou as costas. – O elefante parece-se com uma mesa abaulada
e muito alta.
- Nada disso! – resmungou o
que tinha apalpado as orelhas. – É como uma bandeira arredondada e muito grossa
que não para de tremular.
- Pois eu não concordo com
nenhum de vocês – falou alto o cego que examinava a presa.
- Ele é comprido, grosso e pontiagudo, forte e rígido como os chifres.
- Ele é comprido, grosso e pontiagudo, forte e rígido como os chifres.
- Lamento dizer que todos
vocês estão errados – disse com prepotência o que tinha segurado a tromba. – O
elefante é como a serpente, mas flutua no ar.
O rei se divertiu com as respostas
e, virando-se para seus súditos e ministros, disse-lhes:
- Viram? Cada um deles disse a sua verdade. E nenhuma delas responde corretamente a minha pergunta. Mas se juntarmos todas as respostas poderemos conhecer a grande verdade. Se souberem ouvir e compreender o outro e se observarem o mundo de diferentes ângulos, chegarão ao conhecimento e à sabedoria”.
- Viram? Cada um deles disse a sua verdade. E nenhuma delas responde corretamente a minha pergunta. Mas se juntarmos todas as respostas poderemos conhecer a grande verdade. Se souberem ouvir e compreender o outro e se observarem o mundo de diferentes ângulos, chegarão ao conhecimento e à sabedoria”.
Achei importante iniciar nossa
conversa com este belo conto, pois o que apresentamos hoje são partes de um todo. A Marcela tem a
visão de algumas partes, eu de algumas outras e juntas tentamos chegar um pouco
mais perto do que seria o Todo.
Temos hoje várias maneiras de
falar de uma mesma coisa, e cada um de vocês vai se identificar com um olhar, com
uma parte do que vamos mostrar. Espero que ao fim desse nosso encontro possamos
de fato termos dado alguns passos a mais em direção à totalidade.
Dito isto, vamos lembrar que o
que nos fez preparar esse encontro foi a nossa ideia de que os eventos da vida estão conectados de
alguma forma, e vem imbuídos de sentido.
Os eventos a que nos referimos aqui, são aqueles que costumamos chamar de
acaso.
Para pensarmos nisso, precisamos
pensar no que é o acaso.
O que vocês chamam de acaso?
Em que situação definem algo como acaso? Dizer que algo acontece ao acaso, traz
algum tipo de explicação?
Considera-se acaso tudo aquilo
que não pode receber uma explicação
causal, são eventos que parecem ter algum tipo de relação entre si, mas esta relação não é de causa, logo não pode ser explicada pelo racionalismo
vigente. Dizer que algo acontece ao acaso na verdade não traz explicação alguma, apenas alivia a angústia de não conseguir compreender, objetivamente, por
que determinado evento aconteceu. Entretanto, muitas vezes a relação entre
eventos aparentemente desconectados é tão forte, que a angústia permanece e a
explicação de que aquilo foi uma coincidência
não é suficiente.
“Quando você alcança uma idade
avançada e olha para o tempo de vida que ficou para trás, pode lhe parecer que
este teve uma ordem e um plano consistentes, como se concebidos por algum
romancista. Acontecimentos que quando ocorreram pareciam acidentais e
passageiros transformam-se em fatores indispensáveis na composição do enredo. E
assim, como as pessoas que você conheceu por mero acaso transformaram-se em
agentes importantes de transformação na sua vida, você também terá servido sem
o saber como agente atribuidor de significação as vidas de outras pessoas. O
sistema todo movimenta-se e ajusta-se como uma grande sinfonia em que cada
coisa inconscientemente estrutura as demais”. (Joseph Campbell, 1990)
Jung foi um psiquiatra suíço que
viveu entre 1875 e 1961. Ele começou a pensar nas coincidências significativas
a partir das conversar com Albert Einstein, quando este estava
desenvolvendo a Teoria da Relatividade, e das conversas com Richard Wilhelm, estudioso da filosofia
chinesa e tradutor do I Ching. Finalmente, ele deu mais forma ainda ao
conceito, embasando-o de fato na física através dos diálogos com o físico
alemão Wolfgang Pauli, vencedor do
Premio Nobel pelo Princípio de Exclusão, que implicava a descoberta de um padrão abstrato que se oculta debaixo da
superfície da matéria e que determina seu comportamento de modo “acausal”. Basicamente,
o que a Marcela nos explicou anteriormente. A ideia é que tudo no universo está
interligado por um tipo de vibração,
e que duas dimensões (física e não física) estão em algum tipo de sincronia.
Formação do conceito SINCRONICIDADE
por Jung = física moderna + filosofia oriental (principalmente a chinesa) +
observações na prática clínica de fenômenos reais que não se enquadravam na
visão ocidental causalista
Sincronicidade: termo utilizado por
Jung pela primeira vez em publicações científicas em 1929, porém ele demorou mais
21 anos para acabar o livro "Sincronicidade: um princípio de conexões
acausais", onde expõe o conceito e propõe o início da discussão do
assunto. Um de seus últimos livros e segundo ele o de elaboração mais demorada
devido à complexidade do tema e da impossibilidade de reprodução dos eventos
em ambiente controlado.
Diante das constatações de Jung
sobre a complexidade do tema, o que pretendo hoje é fazer um esboço do conceito
de Sincronicidade. Mais importante do que a compreensão racional, é que as ideias apresentadas os remetam às suas
vidas e tragam um novo olhar para
seus eventos. Para facilitar um pouco essa compreensão, além da preocupação
com as definições conceituais, que são a língua da razão, me preocupei também
em trazer um pouco da língua da emoção, por isso pretendo apresentar alguns
mitos e passagens de textos literários, pois acredito que assim podemos
contemplar pelo menos duas partes do elefante!
A ideia de que os eventos
coincidentes que apresentam uma relação aparente de significado estão
interligados, não é nova.
460 a 375 a.C.: Hipócrates, pai da Medicina, acreditava
que o universo era mantido coeso por "afinidades ocultas", e
escreveu: "existe um fluxo comum, uma respiração comum, todas as coisas
estão em simpatia" à
coincidências seriam explicadas pela tendência dos elementos "simpáticos"
entre si a se atraírem.
1557: Pico Delia Mirándola, filósofo renascentista "Primeiramente
existe uma unidade nas coisas, pela qual cada coisa é una. Em segundo lugar,
existe a unidade pela qual cada criatura é ligada às outras, e todas as partes
do mundo constituem um só mundo”.
1778 a 1860: Arthur Schopenhauer, fala da coincidência como "a ocorrência
simultânea de fatos cujas causas não estão ligadas (...) isto é algo que ultrapassa
a nossa capacidade de compreensão e só pode ser concebido como algo possível
graças a uma maravilhosa harmonia preestabelecida. Todos dela participam. Logo,
tudo é interligado e mutuamente afinado”.
“Toda a realidade pode estar
fundada em um substrato ainda não conhecido que possua qualidades materiais e
psíquicas ao mesmo tempo”. (Jung)
Definição de
Sincronicidade: “(...) coincidência, no tempo, de dois ou vários eventos, sem
relação causal mas com o mesmo conteúdo significativo, em contraste com
“sincronismo” cujo significado é apenas o de ocorrência simultânea de dois
fenômenos”. (JUNG, Vol. VIII/3, parág. 849)
Sincronicidade X Sincronismo à o
que os diferencia é o significado
Evento sincrônico = eventos que
ocorrem ao mesmo tempo (aviões decolarem na mesma hora, pessoas irem ao
auditório ao mesmo tempo, não há significado nessas coincidências)
Sincronicidade: do grego sin = junto, cronos = tempo à
Tempo coincidente
Qual a relação que vocês têm
com o tempo? Sentem o tempo devorador? E o tempo criativo? As vezes sentem que
o tempo como o sentiram em determinada situação é diferente do tempo que o
relógio marcou? Em que situações isso acontece?
Pensar sincronisticamente é abrir
espaço para um novo “tipo de tempo”,
diferente do tempo do relógio a que estamos acostumados. É um tempo sutil,
difícil de ser descrito, por isso o descrevo através da mitologia.
CHRONOS E KAIRÓS
Os gregos antigos tinham duas
palavras para o tempo: chronos e Kairós.
Enquanto chronos refere-se ao tempo cronológico, ou sequencial, que pode
ser medido, Kairós refere-se a um momento indeterminado no tempo, em que
algo especial acontece, em Teologia, é "o tempo de Deus".
Vamos recorrer à mitologia grega
para ampliar a compreensão desses dois “tipos de tempo”.
Chronos tem sido
frequentemente confundido com o titã Cronos,
especialmente durante o período alexandrino e renascentista.
De acordo com a teogonia órfica,
Chronos surgiu no princípio dos tempos, formado por si mesmo. Era um ser incorpóreo e serpentino
possuindo três cabeças,
uma de homem,
uma de touro e outra de leão.
Uniu-se à sua companheira Ananke (a inevitabilidade) numa
espiral em volta do ovo
primogênito
separando-o, formando então o Universo ordenado com a Terra, o mar
e o céu.
Permaneceu como um deus
remoto e sem corpo, do tempo, que rodeava o Universo, conduzindo a rotação dos
céus e o caminhar eterno do tempo, aparecendo ocasionalmente perante Zeus sob a forma de um homem idoso de longos cabelos e barba brancos, embora
permanecesse a maior parte do tempo em forma de uma força para
além do alcance e do poder dos deuses mais jovens.
Uma das representações mais bizarras de
Chronos é a de um homem que devora o seu próprio filho. Esta representação
deve-se ao fato de os antigos gregos tomarem Chronos como o criador
do tempo, logo, de tudo o que existe e possa ser relatado, a exemplo do Deus único e criador dos cristãos,
judeus
e muçulmanos,
sendo que, por este fato, se consideravam como filhos do tempo (Chronos), e uma vez
que é impossível fugir ao tempo, todos seriam mais cedo ou mais tarde vencidos
(devorados) pelo tempo.
Na mitologia grega, Kairós (“o momento certo” ou
“oportuno”) aparece tanto como filho de Chronos
quanto como filho de Zeus. Ao tempo existencial os gregos denominavam Kairós e
acreditavam nele para enfrentar ao cruel tirano Chronos. Na filosofia grega e
romana é a experiência do momento
oportuno. Os pitagóricos lhe chamavam Oportunidade.
Kairós é o tempo em potencial, tempo eterno, enquanto que Chronos é a duração
de um movimento, uma criação.
Kairós, o deus da oportunidade,
era filho de Zeus - o deus dos deuses e de Tykhé, a divindade da fortuna e
prosperidade. Descrito como um belo jovem calvo com um cacho de cabelos na
testa, ele era um atleta e tinha uma agilidade incomparável. Resplandecente e
com a flor da juventude, Kairós tinha duas asas nos ombros e nos joelhos. Se
assemelhava a Dioniso; tinha as bochechas vermelhas e a pele delicada.
Sempre sem roupas, ele corria
rapidamente e só era possível alcançá-lo agarrando-o pelo topete, ou seja,
encarando-o de frente. Depois que ele passava, era impossível persegui-lo,
pegá-lo ou trazê-lo de volta. Na entrada do estádio em Olímpia havia dois altares:
um era consagrado a Hermes, que simbolizava os jogos, e o outro era consagrado
a Kairós, que simbolizava a oportunidade.
Entre os romanos era chamado de
Tempus, o breve momento em que as coisas são possíveis. Kairós tinha o poder do
movimento rápido que podia passar despercebido aos olhos desatentos, tornando
impossível recuperar a visão de sua passagem. Dada à sua natureza difícil,
raramente proporcionava uma segunda chance.
Chronos era descrito como o
velho, o Senhor do tempo, das estações, da pressão das horas ordenadas pelo
relógio e pelos dias, meses e anos determinados pelo calendário. Cruel e
tirano, Chronos controlava o tempo desde o nascimento até a morte, aquele tempo
comum, real, visível e rotineiro. O Tempo Chronos era o ditador da quantidade
de coisas realizadas durante o dia, o tempo burocrático, o tempo humano, o
tempo que nunca é suficiente, o tempo que escraviza, preocupa e estressa. Chronos
deu origem ao cronômetro e aos medidores do tempo, o tempo dos homens.
Kairós era descrito como um jovem
que não se importava com o relógio, o calendário e o tempo cronológico. Kairós
era o tempo que não podia ser cronometrado, o tempo que não pertencia a Chronos
porque não era previsível, apenas acontecia, por isso chamado de momento ou
oportunidade. É o tempo divino que o vento traz, a vida conspira, decide
acontecer sem tempo, sem hora marcada, se manifesta instante a instante e
permanece eterno. Kairós marca os momentos que se tornam eternos, ainda que
tenham sido breves.
Chronos é a nossa vida
programada, quando devemos chegar ao trabalho, quando ocorrem os nossos
encontros marcados, o tempo pelo qual temos de responder: o Tempo-Pai. O
segundo, Kairós, é muito diferente. Mais do que um tempo medido, é a
participação no tempo; o tempo que nos envolve de tal maneira que o perdemos de
vista; o tempo atemporal, os momentos em que o relógio para; um tempo que
nutre, que renova, que é mais maternal. O tempo Kairós ocorre quando estamos
relaxados, de papo para o ar, ao sol, quando o tempo parece ter-se ampliado
amoldando-se às nossas necessidades. Ele ocorre quando estamos totalmente
concentrados naquilo que estamos fazendo. Acompanha sempre momentos de
significado emocional ou espiritual – o tempo em que nos sentimos “unos-com”
mais do que separados do Todo, do amor que nos interliga aos outros.
O princípio de sincronicidade na mitologia grega é
representado pelo deus Kairós. Este
vai reger a constelação desses encontros, pois ele é o tempo significativo que une as diferentes tramas individuais na rede
simbólica da vida, por isso tem os pés alados que lhe propiciam andar em
muitos níveis da consciência.
Além desses mitos, trago uma
passagem do Antigo Testamento, Eclesiastes, Cap. 3, que fala do tempo de
Kairós.
Antigo Testamento, Eclesiastes,
Cap. 3
“Para tudo há um tempo, para
cada coisa há um momento debaixo dos céus:
Tempo para nascer, e tempo
para morrer; tempo para plantar, e tempo para arrancar o que foi plantado;
Tempo para matar, e tempo para
sarar; tempo para demolir, e tempo para construir;
Tempo para chorar, e tempo
para rir; tempo para gemer, e tempo para dançar;
Tempo para atirar pedras, e
tempo para ajuntá-las; tempo para dar abraços, e tempo para apartar-se.
Tempo para procurar, e tempo
para perder; tempo para guardar, e tempo para jogar fora;
Tempo para rasgar, e tempo
para costurar; tempo para calar, e tempo para falar;
Tempo para amar, e tempo para
odiar; tempo para a guerra, e tempo para a paz.
(...) Aquilo que é, já
existia, e aquilo que há de ser, já existiu; Deus chama de novo o que passou”.
Vivemos mergulhados no tempo de
Chronos, e damos pouco espaço a Kairós. A nossa proposta hoje é que abramos
espaço para o deus alado! Quando falamos em Sincronicidade, falamos de simultaneidade de eventos. O centro é o tempo, o que se pergunta é o
que é provável que aconteça conjuntamente, de modo significativo, no mesmo
momento, é um instante de tempo em que estão aglomerados os eventos, existe o
momento crítico que constitui o fato unificador.
Percebam que a questão do tempo é
central em nossa discussão, uma vez que se trata de eventos que acontecem ao
mesmo tempo, mas sem qualquer relação de causa. É o fato de possuírem relação
de significado que nos coloca no tempo de Kairós. É um momento, é oportunidade!
Além da questão do tempo, temos
outro ponto importante, que é o das relações de causa ou significado.
A Marcela nos falou da mudança de
paradigma, começamos a sair de um funcionamento exclusivamente causal para
conceber a possibilidade de outros tipos de explicação para os eventos.
Vamos ouvir uma fala do Jung:
“Estamos tão acostumados a
considerar o “sentido” como um processo ou um conteúdo psíquico, que relutamos
em admitir que ele possa existir também fora de nossa psique. Entretanto,
estamos convencidos, pelo menos, de que sabemos o suficiente a respeito da
psique, para negar a ela, e muito menos ainda à consciência, qualquer poder
mágico. Se, portanto, sustentamos a hipótese de que um só e mesmo significado
(transcendental) pode manifestar-se simultaneamente na psique humana e na
ordem de um acontecimento externo e independente, entramos em conflitos com
os pontos de vista científicos e epistemológicos habituais. (...) A grande
dificuldade está em que nos faltam totalmente os meios científicos para provar
a existência de um sentido objetivo que não seja, ao mesmo tempo, um
produto da psique. Mas, temos de admitir semelhante ponto de vista, para não
recairmos na causalidade mágica, e postular para a psique um poder que
ultrapassa de muito os limites de sua esfera empírica”.(Vol. VIII/3, parág.
905)
Ele supõe que a psique e a
matéria não são comparáveis entre si, mas são propriedades do mesmo e único
ser, ambos são representações de um mesmo universo.
Pensemos primeiramente no
funcionamento de nossos cérebros.
Hemisfério esquerdo: centro da fala, controla o lado direito do
corpo, usa a lógica e racionalidade do pensamento
linear para chegar a conclusões, base da pesquisa e observação científicas,
vê as partes e as relações de causa e efeito entre elas,
vê o mundo como algo separado de si,
a ser usado e dominado à
estilo efetivo e masculino
Hemisfério direito: imagens,
mais do que palavras, são seus instrumentos, intuitivo, contém ambiguidades e oposições, capta o todo e não a parte, compara por
metáforas e não por medidas à
estilo reflexivo, receptivo, feminino
Me digam, em nossa cultura
ocidental, qual o hemisfério mais valorizado?
Percebam então que não é uma
questão de certo ou errado, é uma questão do que é mais valorizado e do que é
negligenciado. Jung afirma categoricamente que a doença é a unilateralidade. O que temos vivido em nossa cultura
ocidental é exatamente a unilateralidade
do corpo, da razão, da lógica, do pensamento causal.
Princípio da causalidade X
Princípio da sincronicidade
Causalidade: insuficiente para explicar certos fenômenos à
pensamento causal = linear, antes (causa) e depois (efeito); previsível; cisão entre aspectos
físicos e psíquicos. Física quântica (nível microfísico) mostra que causalidade
não é lei absoluta (é tendência ou probabilidade dominante)
Sincronicidade: experiência subjetiva à capacidade de notar um
estado interior subjetivo e conectá-lo intuitivamente a um evento exterior a
ele interligado à
co-incidência de eventos significativa para quem deles participa à
cada experiência sincronística é única
Assim, o que propomos é a saída
da unilateralidade, e a busca por outro tipo de olhar, o da intuição, do
significado, do símbolo.
Com o conceito de sincronicidade,
é possível começar a compreender a ideia de que “Nada é por acaso”. Coloca-se
de lado o reducionismo da explicação causal, e inicia-se um olhar mais profundo
sobre os eventos e seus significados.
Com a física quântica e a teoria
da relatividade, como a Marcela afirmou anteriormente, começa a conceber-se
algum tipo de relação que não seja do tipo causa e efeito, e unicidade entre
observador e observado.
Afirmei várias vezes que essa
unilateralidade racional é característica da cultura ocidental. Também disse que Jung formulou o conceito de
sincronicidade a partir da física e da filosofia oriental. A Marcela falou
bastante da física, falemos então um pouco sobre a filosofia oriental e como
ela nos complementa.
Oriente e Ocidente = partes de um
todo, dois aspectos interiores de cada indivíduo.
Ideia básica do pensamento
oriental: há conexão entre a psique
humana e as ocorrências exteriores, entre o mundo interior e o exterior à
realidade essencial: conexão subjacente entre nós e os outros, entre nós e o
universo = Tao
A experiência do Tao ou de um princípio unificador no universo interligando tudo o que existe no
mundo é a base das principais religiões orientais: hinduísmo, budismo,
confucionismo, taoismo e zen à
todas afirmam que a totalidade dos fenômenos (pessoas, animais, plantas e
coisas), desde as partículas atômicas às galáxias, são aspectos do Uno.
Religiões ocidentais (da tradição
ortodoxa judeu-cristã) = enfatizam as dualidades em oposição, em cima Deus e
embaixo o humano pecador, a alma em oposição ao mundo.
Wilhelm traduziu Tao por sentido. Como se realiza isso, essa
conexão com algo maior, a conexão de nós (parte) com o todo? Imitação? Razão?
Vontade?
Parem e pensem em quantas
pessoas vocês conhecem que tem procurado atividades de origem oriental, como
meditação, ioga, artes marciais, acupuntura, mesmo as religiões, como o
budismo. O que acham disso? O que essas pessoas buscam? O que falta a elas?
Parece que há uma necessidade por
esse olhar, por essa forma de ver e se conectar com o mundo.
O que acontece muitas vezes é uma
racionalização de tais práticas.
Acredita-se que por fazer o exercício do ioga, cantar o mantra ou lutar,
esteja-se praticando o que os orientais praticam. A questão é que o que os
diferencia é justamente o olhar para o mundo, a filosofia de vida, e isso
também precisa ser incorporado.
Percebam que esse tipo de
pensamento fica na sombra do Ocidente e aparece na Astrologia, por exemplo, de
forma sombria, reducionista, como nas pessoas que começam o dia lendo o
horóscopo no jornal (redução), ou em superstições infundadas.
Nossos pressupostos históricos
são totalmente diferentes dos orientais. É importante que encontremos formas de
incorporar esse olhar às nossas vidas, mas desde que isso seja inteiro e faça
sentido para nós, não seja algo imposto de fora para dentro, e sim uma
transformação de dentro para fora.
Cura da cisão psicológica = através da união interior, permissão do
fluxo entre os hemisférios esquerdo e direito, lado científico e espiritual,
masculino e feminino, ocidente e oriente.
Conceber então a sincronicidade como algo que apresenta a
conexão entre dentro e fora, com significado, é trazer um pouco desse novo
olhar. Aproximar-se do pensamento oriental é menos copiar-lhe os métodos, mas
sim amplificar a consciência da nossa
experiência por meio dos símbolos que o Oriente nos oferece.
Metáfora do um com o Todo:
“Para ver um mundo num grão de areia
E um céu numa flor silvestre,
Segure o infinito na palma de sua mão,
E a eternidade numa hora”. (William Blake)
Jung traz a ideia da alquimia de unus mundus, um mundo único, total,
seria a unidade de toda a natureza; realidade unitária, dos domínios físicos e
psíquico à Realidade
psicofísica (pressupõe-se sua existência) que se manifesta esporadicamente no
evento sincronístico (a partir disso chegou à ideia de unus mundus)
Essa noção de unus mundus aproxima-se da visão
oriental que sempre viu os fenômenos como pertencentes a uma unidade
transcendente e que se ligam por meio de fios de significados a uma infinita
rede.
Eventos sincronísticos = não são apenas acontecimentos irregulares
e esporádicos, sem qualquer ordem. São fenômenos aleatórios de ordenação
acausal à
pressupõe-se que existe, nas duas realidades (física e psíquica) uma espécie de
ordem ou ordenação intemporal, que se mantém constante.
Até o momento, não se pode afirmar nada sobre qualquer
tipo de regularidade ou lei que rege o princípio da sincronicidade,
portanto, não há como fazer previsões
acerca dele. Jung, após longa discussão e reflexão, concluiu que temos que
admitir, por mais que isso irrite nossas mentes racionais, que os eventos sincronísticos são histórias do tipo
“é assim mesmo”. Mesmo quando se fala em adivinhações, percebe-se que os
eventos reais nunca são previstos, mas, apenas, a qualidade de possíveis
eventos.
Abrir mão da razão e aceitar que
há algo milagroso, que não obedece às leis da natureza.
Mas, como ocidentais que somos,
não vamos abrir mão completamente da razão e vamos trazer um pouco mais de
teoria psicológica à essa discussão.
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