Abaixo segue o material que utilizei na Roda de Conversa!
2º Workshop Terapêutico
Nada é por Acaso: Sincronicidade e a Teoria das Possibilidades
Roda de Conversa – Refletindo sobre as Coincidências Significativas da
Vida
Já falamos da importância dos
fatores tempo e significado. Agora vou trazer um pouco da teoria da Psicologia
Analítica e com isso um novo fator importante: o arquétipo.
Jung transcende o antigo paradigma
e fala da psique como complexo sistema
autorregulador, caracterizado pela dinâmica
entre opostos.
Inconsciente coletivo ou camada arquetípica do inconsciente (camada
mais profunda do inconsciente, universal e congênita – condição presente ao
nascimento) = relaciona o homem ao passado da evolução do ser humano, arqueologia
viva da psique; constituído por natureza
psíquica comum a todos os seres humanos à
está envolvido em eventos sincronísticos
Arquétipos são o que constituem o inconsciente coletivo: padrões de comportamento instintivo à “há tantos arquétipos
quantas situações típicas houver na vida. A repetição infinita gravou essas
experiências dentro de nossa constituição psíquica” (Jung).
Exemplos de situações
arquetípicas: nascimento ou morte, casamento, laços entre mãe e filho, lutas
heroicas à relacionamentos
e conflitos levantados nos mitos e contos de fadas.
Inconsciente coletivo:
comporta-se “como se fosse uno, e
não como se fosse fracionado entre vários indivíduos” (Jung).
O inconsciente como fonte criativa, é como o mar trazendo vida e também
devolvendo à praia o lixo acumulado nas águas. Nele está o passado, o presente
e o futuro: todas as imagens de nós mesmos e do mundo que nos cerca.
Psique (totalidade consciente e
inconsciente) = campo de um continuum espaço-tempo à continuum de experiências ancestrais e futuras.
Fenômeno de sincronicidade é
constituído por uma imagem inconsciente
que alcança a consciência de maneira direta ou indireta, e por uma situação objetiva que coincide com este
conteúdo, e o que liga estes dois
aspectos é a simultaneidade e o significado. Este significado ou sentido
não é um conhecimento ligado ao eu, mas um conhecimento inconsciente
subsistente em si mesmo, e Jung chama de conhecimento
absoluto.
“No palpitar da vida que se acha
imediatamente presente agora em cada um de nós, há um pouco de passado, um
pouco de futuro, e um pouco de consciência, de nosso próprio corpo, de cada uma
das pessoas, da geografia da Terra, da direção da história, de verdade e de erro,
de bom e de mau e de quem sabe quantas coisas mais?” (William Blake)
Self ou Si-Mesmo = percepção
interior de um centro numinoso à
suspender a necessidade de definir o lugar que o Self ocupa no espaço, isso
ajuda a compreensão; pressentir uma
energia divina é a experiência à
o que vivenciamos internamente quando sentimos uma relação com a unidade, é o Self
Self, enquanto nossa essência, aquilo que realmente somos, seria
aquilo que dá significado aos eventos de
nossa vida. Se partimos do ponto de que há uma interligação dos mundos
internos e externos, as coincidências desses dois mundos nas quais vemos
significado, teriam significado
atribuído pelo Self.
Há tendência para as coisas
ocorrerem juntas. Se certo arquétipo está constelado no inconsciente coletivo,
então certos eventos tendem a constelar juntos à
Há uma conexão entre a sincronicidade e
um arquétipo ativo no inconsciente coletivo.
Disse tudo isso, para na verdade
chegar ao ponto de afirmar que há eventos em nossa vida que não se explicam
causalmente, mas que podem ser compreendidos de outra forma, essa compreensão poderia surgir espontaneamente,
sem nenhum raciocínio lógico. A esse tipo de compreensão instantânea Jung dava
o nome de insight.
A sincronicidade depende da
atividade da psique; quanto mais voltado para fora, racional, menos se percebe
ou acontece sincronicidade.
Sincronicidade pode ter um papel
central na individuação ou na maturação psicológica.
3 tipos de sincronicidade:
1.
Coincidência entre o conteúdo mental (pensamento
ou sentimento) e evento externo. Exemplo: Paciente resistente, sua dificuldade
era que pretendia sempre saber melhor as coisas do que os outros, muito
racional. Depois de algum tempo tentando trabalhar isso pela via da razão, Jung
diz que se limitou à esperança de que algo inesperado e irracional acontecesse,
quebrando sua racionalidade. Um dia, ela contava um sonho no qual alguém lhe
dava um escaravelho de ouro de presente (joia preciosa), enquanto contava, Jung
ouve um barulho atrás dele, na janela, de um inseto batendo no vidro, com
intenção de entrar, abre o vidro e é um besouro cuja cor verde dourada torna-o
muito semelhante ao escaravelho de ouro. Ele estendeu o animal a ela dizendo
“Está aqui seu escaravelho”. Isso abriu brecha no racionalismo, rompendo o gelo
da resistência intelectual à
este fato foi uma coincidência misteriosa, e este tipo de situação costuma
atingir um nível profundo de sentimentos na psique à escaravelho é um símbolo
egípcio do renascimento ou da transformação, “ele” precisava entrar na análise,
com sua entrada pôde-se iniciar a transformação de uma atitude rígida, e um
novo crescimento pôde ocorrer.
2.
Sonho ou visão que coincide com acontecimento
que está ocorrendo a certa distância (isso é comprovado mais tarde): percepção
do que está acontecendo sem a utilização de nenhum dos 5 sentidos.
3.
Sonho ou visão de algo que ocorrerá no futuro e
que acontece.
Nos 3: coincidência de um evento
real com um pensamento, visão, sonho ou premonição.
É o participante quem determina se as coincidências são significativas,
através de seus sentimentos. Para compreender plenamente o que é um episódio
sincronístico, talvez seja necessário vivenciar
uma coincidência misteriosa e sentir as reações emocionais espontâneas.
Desta forma, adota-se uma atitude investigativa diante de um
evento sincronístico, supondo-se que o evento tenha um significado que pode ser
desvendado.
O que muda é que passamos a olhar
para as coisas como símbolos, ou
seja, como aspectos carregados de um significado profundo, que vai além da
coisa em si.
Adotando essa postura
investigativa, diante de uma ocorrência do acaso, nos perguntamos: “O fato é sincronístico?”; se a
resposta for positiva, desejo saber seu significado.
Não olhar para os eventos, nem como vítima nem como culpado, mas
se perguntar se o evento está dizendo
algo sobre alguma situação interna em sua vida. Quando aceitamos a ideia de
sincronicidade, qualquer acontecimento
pouco usual é um convite para parar e pensar.
Estudos afirmam que sonhamos
entre 6 a 8 vezes cada noite. Eventos sincronísticos ocorrem à nossa volta todos os dias, mesmo sem os notarmos à passei a perceber mais
eventos sincronísticos enquanto preparava essa fala.
Vou agora dar algumas dicas de
como compreender um evento sincronístico (também se aplica ao sonho):
1º: Averiguar
a respeito do contexto emocional em que ocorreu. O que estava incomodando? Qual
era o problema emocional que necessitava de solução? Como estavam as coisas, o
ânimo interior e as circunstâncias exteriores?
2º: Ter a
curiosidade de saber o que as pessoas, animais ou coisas envolvidas no evento
podem significar e o que isso tem a ver com você.
As coincidências significativas
sempre acontecem em momentos de transição.
Vamos começar a pensar agora, em
situações sincronísticas em nossas vidas.
As primeiras que vem à cabeça são
obvias, mas talvez nunca tenham parado para pensar nisso: nosso nascimento e nossa morte dão grande significado às nossas vidas.
Outros exemplos claros são a gravidez
e o parto, que acontecem em seu próprio tempo, apesar de nossos desejos
conscientes, esperanças, esforços e fantasias. Uma gravidez e um parto merecem
nada mais serem chamados de sincronicidade: a coincidência do acaso de um dos
milhares de espermatozoides encontrar um óvulo em especial, se desenvolver de
determinada maneira e desse bebê nascer em determinado momento.
Trabalho
O trabalho ocupa uma posição
central em nossas vidas e, como sempre, a sincronicidade aparece onde quer que
haja – ou precise haver – maior compreensão da história que estamos vivendo no
dia-a-dia.
Em várias das histórias de
coincidências significativas na vida profissional, aparece a aceitação do fracasso que parece quase
que necessária antes que se possa seguir em frente.
Espiritualidade
Nossa fé e religião também não
deixam de ser eventos sincronísticos. Cremos naquilo que vemos e ouvimos e que
se conecta diretamente ao que faz sentido internamente para nós.
Doenças e Acidentes
Conseguem pensar como doenças
seriam sincronicidades?
A doença é uma manifestação
física, que não é causada por um aspecto psíquico, mas tem total relação de
significado com ele.
Relacionamentos
O amor entre duas pessoas é
basicamente uma coincidência, duas vidas que se cruzam ao acaso à sincronicidade nas
relações amorosas e de amizades.
Uma das características do
acontecimento sincronístico é que ele é único, sem repetição, uma experiência
única na vida, bem como os encontros.
Quando eventos sincronísticos
acontecem em nossas vidas amorosas, podem funcionar de duas formas diferentes
para atingir nossa consciência: as
vezes contrariam a direção que
escolhemos, mostrando algo novo
a nosso respeito e nosso relacionamento; e outra, pode confirmar e consolidar um relacionamento sobre o qual temos
dúvidas.
Pensando a partir desse
princípio, podemos concluir que amor não é uma questão de pessoa “certa” versus pessoa “errada”, mas muito mais
uma questão da nossa atitude interna e
de como essa atitude cria um momento especial em nossas vidas, quando podemos encontrar uma outra pessoa em
seus próprios termos.
Acontecimentos sincronísticos também
acontecem nas amizades, pois a amizade também é sempre uma coincidência, duas
pessoas se encontram e suas vidas se tornam entrelaçadas.
Todo relacionamento é um tipo de
sincronicidade: um acontecimento único no qual um encontro externo entre as
pessoas assume um significado emocional, simbólico e transformador.
“O encontro de duas personalidades é como o
contato de duas substancias químicas: se houver alguma reação, ambos sofrem uma
transformação”. (Jung)
Algumas pessoas tem encontros
sincronísticos nos quais o mesmo tipo de
personalidade ou as mesmas figuras arquetípicas reaparecem continuamente.
A constatação de que “uma outra
versão daquele personagem simbólico está aparecendo novamente” é uma ajuda. O reconhecimento do padrão é o início da
sensatez, porque permite que alguém observe, em vez de ser puxado,
independentemente de sua vontade, em direção à pessoa detentora de uma carga
emocional específica.
Relação Terapêutica
Para que o processo analítico
seja eficiente, é preciso também que haja uma profunda ligação. O relacionamento toca elementos do inconsciente
pessoal e coletivo, tanto do analista como do paciente.
No processo analítico, parece
frequente o analista e o paciente estarem num estado de transe leve, suave e compartilhado. Face a face, em
cadeiras separadas, refletem inconscientemente suas posições corporais e gestos
recíprocos, ao mesmo tempo que compartilham
profundamente o material e os sentimentos.
Muitos encontros sincronísticos
acontecem na clínica: os caminhos que a pessoa percorre até chegar até mim, um
horário que se abre exatamente para que seja possível atender aquela pessoa à sensação de
“inevitabilidade”. Esses encontros também são muito importantes para o
terapeuta, contribuindo para o nosso crescimento.
O encontro é sincronístico não só
para o paciente, mas também para o terapeuta. Jung considerava o processo
analítico como algo similar à reação
alquímica – para que um dos elementos se transforme no decorre do processo
(paciente), o outro também tem de ser afetado (analista). Parece que meus
pacientes passam pela porta de meu consultório acompanhados da oportunidade e
da necessidade de trazerem a tona
aspectos de mim mesma. Seja o que for aquilo de que eu ainda precise me
conscientizar, seja qual for o calcanhar de Aquiles, seja qual for o meu
momento crítico de crescimento, este chegará à minha porta sincronisticamente.
Hidrogênio + Oxigênio (gases) =
água (terceiro elemento, líquido) à
transmutação
Símbolo = 3º elemento do sistema
terapeuta-paciente
Espaço-tempo terapêutico = campo
de inter-relação dos sistemas terapeuta e paciente à esses sistemas entram em
ressonância por meio das constelações simbólicas que vão ocorrendo ao longo do
processo transferencial.
Campo terapêutico = campo simbólico por excelência; todos
os fenômenos emergentes podem ser compreendidos no seu caráter simbólico.
Tempo aparece no seu duplo
aspecto: Chronos e Kairós.
Transformações no campo
terapêutico ocorrem em duplo sentido: no terapeuta e no paciente à toda transformação vai
requerer um renascimento, um sacrifício de uma atitude dominante em prol da
totalidade.
Se lembram de situações que
foram percebidas como sincronicidade na terapia e que por fim trouxeram
transformações?
O novo paradigma e a Psicologia
Analítica nos propõem uma visão da prática clínica na qual terapeuta e
pacientes estejam em relação de reciprocidade à
interagem nos aspectos conscientes e inconscientes, formando um sistema em
contínua transformação.
Seguindo o caminho do coração
Instrumento para a transformação
individual: se uma pessoa pode reconhecer
um problema interior ao ver o modelo refletido na situação exterior, pode
então assumir a responsabilidade pela
transformação.
Encontros sincronísticos =
espelhos (refletindo de volta para nós algo de nós mesmos) à se nos transformarmos
interiormente, os padrões de nossa vida exterior também mudarão
Escolher um caminho com o coração
= aprender como seguir a batida interior do sentimento intuitivo
Grandes decisões = lógica + coração
Passado = vivo, atua como padrões
de comportamento; quando ressignificado, possibilita novas vivências de
presente e futuro
Futuro = à medida que nos
projetamos no futuro abrindo novas possibilidades de vivências, resignificamos o
presente e o passado
Eventos sincronísticos nos impõem
uma verdade sobre nossas vidas que
muitas vezes temos o hábito de ignorar: que o sentido de nossas vidas, a trama da historia da nossa vida, não é
escrita simplesmente pelo que sabemos de
nós mesmos, mas vem de um ponto muito mais profundo, da nossa capacidade humana inata de experimentar a
totalidade vivendo uma vida simbólica.
Como vimos, as sincronicidades
vem de formas diferentes, e, na verdade, não existe uma área de sua vida que
num momento ou outro não seja tocada pelo acaso.
A questão é o que fazemos
quando uma virada acidental do destino reorganiza nossas vidas e nos mostra
algo que não esperávamos. Nós damos as costas e negamos sua veracidade? Ou
encaramos aquilo que não provocamos nem criamos em nossas vidas com abertura de
espírito, interesse e seriedade? Conseguem pensar nisso?
É quase sempre impossível alterar
o padrão de como as coisas acontecem no mundo exterior, enquanto que mudar
aquilo que se vê como problemático na própria psique, apesar de difícil, é
possível.