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quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Tríscele



O Tríscele é  um antigo símbolo indo-europeu. Triskelion é uma palavra de origem grega que  significa "três pernas", pois a imagem lembra três pernas correndo. As três curvas representam o movimento rotacional da vida e do universo. Como as espirais, pode se mover no sentido horário ou anti-horário. Simbolicamente, o sentido horário representa  expansão e crescimento enquanto o sentido anti-horário, refere-se a proteção e recolhimento.


Ambos os movimentos são importantes na análise e acontecem continuamente no processo de individuação. Ao mesmo tempo em que acontece a progressão da libido, sendo esta investida no mundo externo e possibilitando expansão e crescimento, a regressão da libido, através do recolhimento, com seu investimento nos conteúdos internos, é essencial para o desenvolvimento psíquico e transformação interior. 
Não é por acaso que foi essa a imagem que escolhi para colocar em meu cartão.


terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Um pouco sobre o trabalho do analista

No decorrer de sua obra, Jung pouco falou sobre método e técnica, sendo que em muitos momentos, ao abordar o tema, se coloca veementemente contra o estabelecimento de uma metodologia do trabalho analítico. Nos poucos momentos em que se refere a este assunto afirma que seu método consiste em provocar intencionalmente o que a natureza produz inconsciente e espontaneamente e integrá-lo à consciência e seus conceitos, tratando-se de um método hermenêutico, um processo de interpretação sintético ou construtivo, e destaca o fato de que toma o processo natural de individuação como modelo e diretriz para o o seu método de tratamento (Jung, 1987).
Fica claro, diante do exposto, que o processo de individuação, como o processo de "tornar-se si mesmo" (Jung, 2008: §266), é a meta principal da análise e do trabalho a ser realizado nela.
Neste encontro de almas que é o encontro analítico há um trabalho a ser feito, um trabalho que Gambini (2008) nomeou como o "ofício de terapeuta". A palavra ofício, em latim, officium, se refere a fazer um trabalho, fazer uma obra.  Este autor relaciona o ofício do terapeuta ao opus alquímico e ao trabalho agrícola, um tipo de ofício que se diferencia dos outros, uma vez que, aqui, "sempre existe um dado indisponível, uma pergunta sem resposta, um não-saber a respeito das leis que governam a vida, o vir a ser, a relação entre mente e corpo" (Gambini, 2008:141).
Barcellos (2012) afirma que o trabalho é um tema por excelência da psicologia profunda, especialmente na ideia central de Hillman do cultivo da alma (soul making), que é o trabalho de fazer alma. O autor ressalta que o trabalho analítico é um trabalho de criação, em que uma psique criativa "se cria a si mesma por meio de processos de construção e destruição"  (Barcellos, 2012: 17).
O processo analítico, conforme se aprofunda, coloca em movimento sofrimentos e acontecimentos misteriosos.

É um fato curioso constatar a freqüência com que todos, até os menos aptos, acham que sabem tudo sobre psicologia, como se a psique fosse um domínio acessível ao conhecimento geral. No entanto, todo verdadeiro conhecedor da alma humana concordará comigo, se eu disser que ela pertence às regiões mais obscuras e misteriosas da nossa experiência. Nunca se sabe o bastante neste domínio (Jung, 2009: §2).

É muito fácil, tanto para o analista como para o analisando, perder o sentido de direção. Eis por que, apesar de constatar-se a unicidade de tal processo, há, ainda assim, um desejo e busca por teorias e técnicas que ofereçam um sentido de orientação. O grande desafio aqui é fugirmos do leito de Procusto.

Por tudo isso, e levando-se em consideração as características da psique, nosso material de trabalho, é que se deve buscar por categorias de trabalho que possam compreender a psique no âmbito da própria psique. Para Edinger (2006), é isso o que fazemos quando tentamos compreender o processo da psicoterapia em termos de alquimia.  Um velho ditado alquímico exorta: "Dissolve a matéria em sua própria água".