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terça-feira, 1 de março de 2016

A importância da relação na análise

Em seu livro "Psicoterapia de Grupo: teoria e prática" (2006), Irvin Yalom enfatiza a importância dos relacionamentos interpessoais para o ser humano. O autor traz as ideias de John Bowlby para afirmar que o comportamento de apego é necessário para a sobrevivência, além de essencial, intrínseco e geneticamente programado; e de Mitchell para dizer que as pessoas só são compreensíveis dentro da rede de relacionamentos passados e presentes.

Yalom diz que

"Reconhecendo a primazia do relacionamento e do apego, os modelos contemporâneos da psicoterapia dinâmica evoluíram de uma psicologia freudiana individual e baseada no impulso para uma psicologia relacional de duas pessoas, que coloca a experiência interpessoal do paciente no centro da psicoterapia efetiva. A psicoterapia contemporânea emprega um "modelo relacional, segundo o qual se acredita que a mente nasce de configurações interacionais do self em relação aos outros" (Yalom, 2006, p.38).

Tal afirmação do autor confirma o que Jung pretendia com sua proposta terapêutica através de um procedimento dialéticoDesde muito cedo em seu trabalho Jung priorizou o encontro analítico como um encontro entre duas pessoas que, tal como um encontro de substâncias, se transformam mutuamente ao se tocarem. 

Aí se encontra também a ideia central de transferência e contratransferência em Psicologia Analítica. A ideia é que através da relação dialética a transformação aconteça, os conteúdos sejam conscientizados e integrados, e o paciente possa aos poucos recolher suas projeções e ser o mais verdadeiro possível, fazendo da relação com o analista uma relação humana verdadeira.

Assim, diante do paciente é importante que o terapeuta se permita ser ele mesmo. Obviamente que isso não significa agir com o paciente como agimos com nossos pais, amigos ou parceiros, mas significa sermos verdadeiramente nós mesmos neste ambiente que, por mais profissional que seja, não deixa de ser um encontro de almas.

Isso é que o faz esse trabalho ser tão incrível: cada terapeuta é único, assim como cada paciente é único, e desta forma, cada encontro se faz único! E é nessa unicidade que o trabalho acontece, e é ela o campo fértil para o plantio, o cultivo e a colheita do processo de individuação.

Para mim, a melhor imagem para essa ideia é a da roupa: é claro que você não irá atender o paciente de pijama ou de roupa de praia, mas use algo que te sirva, que tenha a ver com você  e que te seja confortável. Não se esconda atrás de uma roupa que "disseram que é bonita ou adequada". Seja você mesmo e faça da relação com o paciente uma relação real. Isso será transformador para ambos.