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sexta-feira, 11 de maio de 2012

Aula dialogada - Refletindo sobre a Totalidade que Somos Nós


No dia 28/04/2012 aconteceu o Workshop Terapêutico coordenado por mim e por Marcela de Tilio. No folder de divulgação (alguns posts abaixo) podem dar uma olhada na programação do evento. Foi tudo muito legal!!! A Marcela conduziu as vivências, e eu, a aula e a roda de conversa, que na verdade acabaram se misturando.

A pedidos de alguns dos participantes e de pessoas que não puderam participar, compartilho abaixo o texto que usei para a aula e para a roda de conversa (que foram uma continuidade da outra). Inicialmente pensei em deixar apenas a teoria, mas resolvi deixar as perguntas que fiz ao grupo para reflexão, pois pensei que quem não pôde estar presente pode fazer esta reflexão consigo mesmo, acredito que pode ser muito produtivo também!!!

Espero que gostem!

Ao fim do texto, uma foto tirada durante a aula...

WORKSHOP TERAPÊUTICO
A TOTALIDADE QUE SOMOS NÓS – VIVÊNCIAS E REFLEXÕES

AULA DIALOGADA – REFLETINDO SOBRE A TOTALIDADE QUE SOMOS NÓS

Nos reunimos aqui hoje com o objetivo de autoconhecimento, mas o que vocês chamam de autoconhecimento?

Autoconhecimento não é só conhecer (razão) - O autoconhecimento não é apenas “conhecer” no sentido racional da palavra, de saber mais informações sobre si. É também sentir, ser tocado por essas descobertas. Mais do que isso, é ENTRAR EM CONTATO, DE FORMA PROFUNDA, COM AQUILO QUE REALMENTE SOMOS.

Píndaro (518 – 438 a.C.) – poeta grego: “Torne-se o que você é”
Aristóteles (384 – 322 a.C.) – filósofo grego: cada coisa criada tem em si a forma que lhe é exclusivamente própria e a vida deve levar a essa forma própria
Nietzsche (1844 – 1900) – filósofo alemão: “O que diz a sua consciência: tu deves te tornar quem tu és” (A Gaia Ciência); “Torna-te quem és!” (Assim falava Zaratustra)
Jung (1875 – 1961) – psiquiatra suíço: o objetivo da psicoterapia é tornar-se si-mesmo.
James Hillman (1926 – 2011) – psicólogo norte-americano: Somos o que somos e não poderíamos ser de outra maneira

Fala-se de um processo de se tornar o que se é, algo que vai além do ego, daquilo que conhecemos de nós mesmos, há mais de 2500 anos.

O que vocês entendem por isso, tornar-se o que se é?
Qual o sentido disso para vocês?
Como imaginam que isso se dá?

Jung foi o primeiro psicólogo que contemplou a individualidade e convidou seus pacientes a abraçarem a pessoa única que cada um deveria ser. Isso significa CONFRONTAR O QUE A SOCIEDADE DIZ E ESPERA DE VOCÊ, com o que você pensa, sente, é.

O que acreditam que a sociedade pede hoje para as pessoas?
Acham que as pessoas costumam tentar corresponder?
E acreditam que conseguem?
Como é tentar corresponder?

Resultado: não nos aceitamos - Esse processo de tentar corresponder ao que a sociedade pede, faz com que não nos aceitemos.

Autoconhecimento = autoaceitação. Conforme nos conhecemos, podemos aceitar mais nossos aspectos, e principalmente, nossas diferenças.

Pensem, já ouviram uma voz dizendo que deveria fazer, ou como se sentia em determinada situação, ou mesmo um sonho indicando algo, e os ignorou? Por que? Como foi?

O que sabemos de nós (consciência) X o que somos (vai além – inconsciente) - Diante disso, partimos da ideia de que existe algo que sabemos de nós, e algo que vai além, que amplia o que somos, por mais que não saibamos ao certo o que isso é. Estes aspectos que não conhecemos é o que chamamos de inconsciente.

Portanto, ir além do que conhecemos e do que é esperado de nós, só é possível através de um CONFRONTO COM O INCONSCIENTE. E de um encontro com o que Jung chamou de verdadeiro Self, ou Si-mesmo. – ENCONTRO COM O SELF

Assim, a base do trabalho de Jung, em quem nos baseamos para o encontro de hoje, é a PROMOÇÃO DA INDIVIDUALIDADE.

Já tinham pensado nisso? Promoção da individualidade!!!

Estamos entre 2 MUNDOS: mundo da percepção externa e mundo da percepção do inconsciente. Estamos aqui hoje para possibilitar o DIÁLOGO ENTRE ESSES DOIS MUNDOS, mais especificamente entre o ego, ou seja, aquilo que conhecemos de nós mesmos, e o Si-mesmo, nossa essência, aquilo que realmente somos. – ego X si-mesmo

Momento de parar e olhar para dentro - O que propomos hoje é um momento de parada, de olhar para dentro, para si mesmo, em busca de algo que a princípio nem sabemos o que é, mas que sentimos, e por isso existe.

Disse Clarice Lispector: “Ela acreditava em anjos, e porque acreditava, eles existiam”
Vivemos num mundo racional, lógico, positivista, que atribui realidade apenas àquilo que podemos ver, tocar, cheirar, ouvir, provar. Entretanto, se estão aqui hoje, provavelmente é porque sentem que há mais coisas além disso, e nossa ideia, aquilo que faz sentido para nós, e que pensamos em compartilhar com vocês hoje, é que aquilo que sentimos, pensamos, imaginamos, acreditamos, é muito real, talvez mais real do que tudo o que os 5 sentidos afirmam. Como disse Clarice Lispector, são essas as coisas que existem.

Doença da atualidade: viver um lado só da vida, distância de nós - Talvez possamos afirmar que a grande doença de nossa época é a distância de nós mesmos e a falta de sentido na vida. É isso o que encontramos na clínica atual.

Busca pela distribuição equilibrada de energia

Vamos conversar um pouco sobre como tem distribuído sua energia em suas vidas, e como gostariam de distribui-la.

Unilateralidade – Desequilíbrio. Se a energia é investida de forma equilibrada, a roda gira, a vida anda.

Essa parada, esse olhar para a vida, requer uma atitude diferente. Vamos falar um pouco sobre ESPIRITUALIDADE. Recorremos à origem da palavra. Religião vem do termo latino religare = acurada e conscienciosa observação de certos fatores dinâmicos. Utilizamos novamente a ideia de Jung, que relaciona a religião, religiosidade, ou o que podemos chamar de espiritualidade para ficar bem claro que não falamos aqui de qualquer instituição religiosa, à ideia de uma atitude religiosa. Esta seria uma atitude inerente, arquetípica, ao espírito humano, que pode ser considerada como uma consideração e observação cuidadosas de fatores dinâmicos que influenciam a consciência e, portanto, a experiência.

Cito Jung: “Entre todos os meus doentes na segunda metade da vida, isto é, tendo mais de 35 anos, não houve um só cujo problema mais profundo não fosse constituído pela questão de sua atitude religiosa. Todos, em última instância, estavam doentes por ter perdido aquilo que uma religião viva sempre deu em todos os tempos aos seus adeptos, e nenhum curou-se realmente sem recobrar a atitude religiosa que lhe fosse própria. Isto, está claro, não depende absolutamente de adesão a um credo particular ou de tornar-se membro de uma igreja”.

Conseguem entender o que seria essa atitude religiosa? Faz sentido para vocês?

Tomamos como ponto de partida então o homos religiosus que existe dentro de nós, aquele que considera e observa cuidadosamente certos fatores que agem sobre nós e sobre nosso estado geral.

Muito bem, conversamos sobre diversas coisas pela manhã.
O que ficou de mais forte?
O que veio nesse tempo em que paramos para nos alimentar?

Essa relação com o que age sobre nós, e, como dissemos anteriormente, com aquilo que realmente somos, se dá através dos SÍMBOLOS. É da essência do símbolo conter ambos os lados (racional e irracional)

A palavra símbolo vem da palavra grega symbolon, que significa “aquilo que foi colocado junto”. No uso grego original, o símbolo referia-se às duas metades de um objeto que era dividido em duas partes como sinal de compromisso e que depois servia como prova de identidade daquele que apresentasse uma das partes diante do que estivesse de posse da outra. O símbolo nos leva à parte que falta do homem inteiro.

O que entendem quando falo de símbolo?
No que pensam?

Símbolo é tudo aquilo que TRAZ UM SIGNIFICADO PROFUNDO, QUE VAI ALÉM DELE PRÓPRIO. São: imagens que chegam até nós nos sonhos, imaginações, desenhos, pinturas, esculturas. Também podemos chamar de símbolos, doenças e eventos de coincidência significativa, que alguns chamam de acaso. A linguagem da consciência são as palavras, e a linguagem do inconsciente são os símbolos.

História da forma de expressão e comunicação dos homens primitivos.

Estabelecer uma relação consciente com o inconsciente, saber que ele está lá dentro de nós e que ele afeta tudo o que pensamos e fazemos, sozinhos e juntos, em pequenos grupos e como países, muda radicalmente todos os aspectos da vida.

Além da atitude religiosa, propomos hoje uma segunda atitude, o que podemos chamar de ATITUDE SIMBOLIZADORA: é uma forma de estabelecer a conexão com o profundo na vida, um momento de parar com as atividades diárias e lançar um olhar para nós mesmos, acessando os símbolos que se manifestam.

O objetivo básico da psicoterapia junguiana, e o que norteia nosso trabalho hoje também, é tornar consciente o processo simbólico, uma vez que enquanto se está inconsciente da dimensão simbólica da existência, as vicissitudes da vida são experimentadas como sintomas ou acaso, ou seja, coisas sem valor ou sentido, e a FALTA DE SENTIDO CONSTITUI A MAIOR AMEAÇA À HUMANIDADE.

Para que se possa vivenciar os símbolos como tais, é preciso que se esteja preparado para se deixar tocar emocionalmente por ele. A proposta é a de se colocar diante do símbolo e deixar-se transformar por ele, isso é, na medida em que o concebemos como máquina transformadora de energia. Ele é um veículo que conduz à transformação ou um meio de transformação.

Imagens, quando objetivadas, se tornam mais concretas, assim não temos tanta dificuldade para trabalhar com elas, NOS RELACIONAMOS COM ELA, SUPERA-SE A IDENTIFICAÇÃO COM O PROBLEMA E ESSE É O PRIMEIRO PASSO PARA A CONSCIENTIZAÇÃO.

Já tinham pensado nisso? Em algum momento já se perceberam fazendo ou sentindo necessidade de se expressar simbolicamente?

Nos símbolos, nossas dificuldades especiais e atuais tornam-se manifestas, assim como nossas próprias possibilidades de vida e desenvolvimento. Nas dificuldades depositam-se as possibilidades de desenvolvimento.

É inerente à psique a tendência para se desenvolver, estar em movimento: aqui, ela é um SISTEMA AUTORREGULADOR. Falar mais

CONCEPÇÃO CAUSAL X FINALISTA

Aquilo que para o ponto de vista causal é fato, para o ponto de vista finalista é símbolo, e vice-versa. A causa não possibilita uma evolução, satisfeita a exigência causal, a alma não pode ficar parada neste estágio, mas deve evoluir, convertendo-se as causas, para ela, em meios ordenados a um fim, isto é, expressões simbólicas de um caminho a ser percorrido

Essa busca por um sentido, que na verdade é o que venho dizendo desde o início dessa conversa, é o que Jung chama de processo de individuação. É o PROCESSO DE “TORNAR-SE SI-MESMO”. Esse processo pode começar e se desenvolver sem que se tenha consciência disso, mas se se pretende assimilá-lo à consciência, é necessária uma certa dose de conhecimento. Se não for assimilado, ou se não atingir uma intensidade extraordinária, o processo pode se perder novamente no inconsciente. Assim, pode-se compreender que apesar da importância e do poder do Self nesse processo, o ego tem papel essencial, pois é por intermédio dele que ocorre qualquer tipo de ampliação da consciência decorrente de todas as vivências pensadas até agora.

Procurar sentido nos eventos de nossas vidas, conexão com o profundo (sincronicidade). Utilizando-se desse olhar, é possível pensar nos aspectos do mundo, tanto externo quanto interno, como ligados por uma rede de significados.

Um exemplo clássico e claro de atitude simbolizadora é o próprio Jung. Após seu rompimento com Freud, em 1913, Jung passou por 6 anos de crise e sofrimento intensos, os quais poderiam ser vistos até mesmo como de perturbação psíquica, não fosse sua atitude simbolizadora. Durante esse tempo, o autor dividia seu tempo de trabalho com profunda imersão no inconsciente, ao pintar, desenhar, esculpir e “brincar” com pedras na areia, à margem do lago de sua casa, ou seja, ele se dedicou aos símbolos, entrou em atitude simbolizadora. Jung registrou essa imersão em um livro denominado “Livro Vermelho”. Foi a partir da relação com o símbolo que o autor escreveu todos os dezoito volumes de sua obra.

Neste momento, gostaria de encerrar fazendo uma observação sobre os momentos de crise.

Depois de tudo o que conversamos, qual a relação que conseguem fazer entre momentos de crise, sofrimentos e as atitudes de que vínhamos falando, religiosa e simbólica?

Se levamos essas atitudes: religiosa e simbólica, para nossas vidas, eles podem ser vistos como oportunidades.

Em “Psicologia e Alquimia”, Jung fala sobre o homo totus, o homem completo, oculto e não manifesto, homem mais amplo e futuro, que é aquilo que o homem passa a vida inteira procurando. Ele diz que, entretanto, o caminho correto que leva à totalidade é aquele feito de desvios e extravios do destino, aquele que consiste as experiências de “difícil acesso”.

Este caminho, a princípio, pode ser caótico e imprevisível, e só aos poucos vão se multiplicando os sinais de uma direção a seguir. Jung considera que o caminho não segue uma linha reta, e sim algo que pode ser definido como ESPIRAL.

Nosso objetivo hoje, e que também é o objetivo da terapia é que as pessoas não sejam estagnadas, que se tornem flexíveis e aprendam a perceber diversas influências possíveis em sua vida; aprender a lidar com “estiagens”, a suportar estagnações até algo novo nascer, suportar tensões sem perspectiva de sucesso; lidar criativamente com a vida própria, lidar, caminhar, lidar com tempos de estagnação, ser capaz de aceitar a nós mesmos como alguém em transformação, com todos os cantos e quinas que forma uma pessoa; assumir o risco de ser si-mesmo. Costumamos tentar solucionar problemas com velhos métodos.

Disse Albert Einstein: "Não há maior sinal de loucura do que fazer a mesma coisa repetidamente e esperar a cada vez um resultado diferente."

O objetivo então é levar o indivíduo a realizar experimentações com o próprio ser e conseguir lidar de modo criativo com seus problemas e com as peculiaridades de seu ser.

Por fim, ressaltamos que tornar-se o que se é não significa tornar-se plano, harmônico, polido, mas sim aceitar cada vez mais em si o que se é, o homogêneo na própria personalidade juntamente com “as quinas e os cantos”.


Psicoterapia breve de grupo

Pensando na possibilidade de unir pessoas com interesse em compartilhar experiências e reflexões, elaboramos a proposta de Psicoterapia Breve de Grupo, utilizando como referencial teórico a Psicologia Analítica de Jung, e técnicas expressivas e de integração psicofísica.
Os grupos estão previstos para iniciar em junho!

Estamos muito animadas com a possibilidade dessa experiência em grupo!!!


Workshop Terapêutico - A Totalidade que Somos Nós: vivências e reflexões

Aconteceu no dia 28/04/2012 o Workshop Terapêutico - A Totalidade que Somos Nós: vivências e reflexões.

Foi um dia maravilhoso, com pessoas especiais, que puderam entrar em contato consigo mesmas de forma profunda através de reflexões e dos símbolos.  Neste dia, conversamos muito sobre as atitudes simbolizadora e religiosa e sobre o processo de tornar-se si mesmo.

Abaixo estão as participantes e as coordenadoras, eu e Marcela de Tilio.

Já estamos preparando o próximo para junho!


Workshop Terapêutico - A Totalidade que Somos Nós: vivências e reflexões