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quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Em homenagem a Lopéz-Pedraza

Logo depois de postar o último texto, soube que Rafael Lopéz-Pedraza havia falecido aos 90 anos!

Fica registrada então minha homenagem a esse grande autor e analista, sensível, profundo, que como fez comigo, deve ter mexido na mente e no coração de milhares de pessoas!

Obrigada pela sua contribuição à Psicologia e descanse em paz!

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Consciência de Fracasso

Como prometido, volto para falar de fracasso!

Me deparei com esse tema ao ler, com duas queridas amigas, o livro "Ansiedade Cultural", de Rafael Lopéz-Pedraza, no capítulo "Consciência de Fracasso".
Esse é o autor, gênio!


Essa foto foi presente da minha querida analista, e me inspirou a voltar a escrever...

mas voltando...

Logo no começo do capítulo, o autor diz que "o fracasso e o que lhe diz respeito está fortemente reprimido" (p.92) e

"Se alguém vem me ver e falar comigo, em outras palavras, entrar em terapia, é porque algo fracassou em sua vida: os moldes em que vivia já não funcionam, fracassaram, demoronaram. Isto é, na psicoterapia a pessoa que se encontra na minha frente está vivendo um fracasso e, apesar dos níveis superficiais em que às vezes aparece, usualmente esconde complexidades insuspeitadas" (p.92)
É isto o que se dá em psicoterapia, é o espaço em que se permite falar sobre o fracasso.

Sabemos e sentimos na pele que a sociedade de hoje é construída sobre o sucesso, só ele é reconhecido e valorizado. Os fracassos são excluídos, jogados para debaixo do tapete, são o "não-dito".
Enquanto psicoterapeutas, também estamos envoltos por essa cultura, e fugimos de nossos próprios fracassos, e muitas vezes, acabamos levando o paciente a fugir de seus fracassos!
Se buscamos sucesso a todo custo, este se transforma em um complexo autônomo (no termo cunhado por Jung), suprimindo a possibilidade de conexão do ego com outras realidades, e entrando num estado fantasioso de que somos plenos merecedores de sucesso.
Assim, o sucesso torna-se irreflexão, a atitude se torna unilateral, e o fracasso, na sombra, se distancia do ego. Há um distanciamento da reflexão, do aprofundamento, da totalidade, do Self.

A vida passa a ser regida por Apolo, o deus que personifica a unilateralidade do brilhantismo e da visão do sucesso que domina a vida. Aí falta Hermes, deus que vive sempre no limite, na borda, com ele não há unilateralidade, há sempre equilíbrio.
Se retomamos a ideia que apresentei em um post anterior, da psicoterapia hermética proposta pelo mesmo autor, entendemos que o espaço psicoterapêutico é um espaço que deve permitir o contato com essa sombra (no sentido junguiano da palavra mesmo!), e portanto, da totalidade do ser humano.

A psicologia de Jung, como a psicologia dos opostos, busca sempre a compensação da consciência coletiva, na busca pela individuação, e tal processo passa por acessar conteúdos negados, como a fragilidade do ser humano e seus fracassos.

Porém, esse trabalho só poderá ser feito com nossos pacientes se nós mesmos, enquanto terapeutas, estivermos atentos a essa inflação de identificação com o sucesso. Em nossas vidas pessoais é importante o reconhecimento e aceitação do fracasso, mas como profissionais também, é arriscado quando fugimos de nossas inseguranças, nossos erros e dificuldades!
Para Jung, o psicoterapeuta deve se colocar diante do paciente, antes de tudo, como uma alma humana, com tudo o que lhe é cabível, inclusive os fracassos. Quando se mostra "fracassado" ao paciente, permite que este também o seja, e é aí que começa o aprofundamento no sentido de nos aproximarmos de nós mesmos!

"Temos de saber, pois sentimos assim, que o que chamamos de consciência de fracasso é algo interior e muito obscuro. Quando nos referimos à consciência de fracasso, nunca estamos nos referindo a algo a que podemos chegar mediante esquemas de fácil acesso. A consciência de fracasso pertence, e creio que isso estamos compreendendo agora, a áreas obscuras nas quais se move nossa interioridade. (...) é algo mais precioso e muito psíquico, é evasiva, vem e vai, e com isso nos indica suas características mercuriais. É uma consciência média e obscura, cujo sítio é o umbral e sua luz crepuscular. Mas é nesse lugar que nos reconciliamos com nossas mortais limitações e, fazendo isso, encaixamo-nos nos limites definidos do nosso ser e dentro da realidade que somos. É isso que torna possível a imagem com suas possibilidades de uma vida culta". (p.127-8)

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

A sabedoria de Hermes

"Simplesmente, quero sugerir que uma psicoterapia hermética não tem nem objetivo, nem meta, propósito ou significado, pois estes representam a possibilidade de levar a vida a uma imobilização; a única preocupação de Hermes como senhor dos caminhos é trilhar novos trajetos na psique, é que a psique se movimente" (Rafael Lopéz-Pedraza - Hermes e seus Filhos, p. 187)

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Família e História

Interessantes essas festas de fim de ano, quando nos deparamos mais próximos das pessoas, desejando sempre as mesmas coisas: paz, amor, saúde, dinheiro... E o engraçado é que sempre desejamos as mesmas coisas de verdade, pois é isso que queremos que as pessoas próximas de nós recebam!

Ficamos todos mais sensíveis e nos deparamos reflexivos, mais afetuosos e nos aproximamos da família! Como isso é especial!

Pensar e sentir tudo isso nesse fim de ano me fez pensar na família, na importância dela, no vínculo intenso que nos prende a ela...

Ao falar do inconsciente coletivo, Jung nos conta que pensou nessa ideia ao se questionar para onde iriam as experiências dos homens no decorrer dos anos. Será que de alguma maneira não há um registro disso tudo em nós? Será que a forma como o homem vem vivendo a vida e as relações não influenciam em como, hoje, vivemos e nos relacionamos. Ele concluiu que sim! Também entendo que sim!

Mas além disso, desse inconsciente coletivo, comum a todos os homens, e do inconsciente pessoal (de cada indivíduo), ele também fala que há um inconsciente cultural, um racial, um familiar. E é do familiar que quero falar.

O que se entende a partir dessa visão é que tal qual heranças físicas, as experiências dos ancestrais também são herdadas. De alguma maneira, há um registro do que foi vivido, e esse registro nos influencia de diversas maneiras. O que nossos pais, avós, tios, bisavós e daí em diante viveram, também fazem parte de nós, também compõem os indivíduos que somos! Portanto, entendo que conhecer tudo isso e absorver as histórias, refletir, ter a tal atitude religiosa diante delas (como falei no post anterior) contribui para nosso processo de individuação.

Afinal, não é este o processo de tornar-se si mesmo? Pois bem, como tornar-me eu mesma sem saber de onde venho, sem compreender que isso me faz eu mesma?

Independente da teoria, fato é que a família é importante!

O resgate dessa história nos completa, esclarece sentimentos, angústias, fantasias que até então não entendíamos, não sabíamos de onde vinham!!! Além disso, esse entendimento possibilita que possamos dar um novo significado a tudo isso, tornando-nos mais conscientes de nós mesmos, possibilitando que as atitudes e escolhas daí em diante sejam ainda mais inteiras e conscientes.

Portanto, procure manter esse espírito de fim de ano durante o ano todo! Se aproxime sempre desses que te completam! Olhe para trás! Aceite tudo o que te compõe, bom ou ruim, afinal, não é só de luz que vivemos, a sombra é importante ou caímos na tal "cegueira branca". E depois, religiosamente, contemple toda essa história e transforme essa carga em algo que te faça crescer ainda mais!