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segunda-feira, 25 de junho de 2012

Roda de Conversa – Refletindo sobre as Coincidências Significativas da Vida


Abaixo segue o material que utilizei na Roda de Conversa!

2º Workshop Terapêutico
Nada é por Acaso: Sincronicidade e a Teoria das Possibilidades

Roda de Conversa – Refletindo sobre as Coincidências Significativas da Vida
Já falamos da importância dos fatores tempo e significado. Agora vou trazer um pouco da teoria da Psicologia Analítica e com isso um novo fator importante: o arquétipo.
Jung transcende o antigo paradigma e fala da psique como complexo sistema autorregulador, caracterizado pela dinâmica entre opostos.
Inconsciente coletivo ou camada arquetípica do inconsciente (camada mais profunda do inconsciente, universal e congênita – condição presente ao nascimento) = relaciona o homem ao passado da evolução do ser humano, arqueologia viva da psique; constituído por natureza psíquica comum a todos os seres humanos à está envolvido em eventos sincronísticos
Arquétipos são o que constituem o inconsciente coletivo: padrões de comportamento instintivo à “há tantos arquétipos quantas situações típicas houver na vida. A repetição infinita gravou essas experiências dentro de nossa constituição psíquica” (Jung).
Exemplos de situações arquetípicas: nascimento ou morte, casamento, laços entre mãe e filho, lutas heroicas à relacionamentos e conflitos levantados nos mitos e contos de fadas.
Inconsciente coletivo: comporta-se “como se fosse uno, e não como se fosse fracionado entre vários indivíduos” (Jung).
O inconsciente como fonte criativa, é como o mar trazendo vida e também devolvendo à praia o lixo acumulado nas águas. Nele está o passado, o presente e o futuro: todas as imagens de nós mesmos e do mundo que nos cerca.
Psique (totalidade consciente e inconsciente) = campo de um continuum espaço-tempo à continuum de experiências ancestrais e futuras.
Fenômeno de sincronicidade é constituído por uma imagem inconsciente que alcança a consciência de maneira direta ou indireta, e por uma situação objetiva que coincide com este conteúdo, e o que liga estes dois aspectos é a simultaneidade e o significado. Este significado ou sentido não é um conhecimento ligado ao eu, mas um conhecimento inconsciente subsistente em si mesmo, e Jung chama de conhecimento absoluto.
“No palpitar da vida que se acha imediatamente presente agora em cada um de nós, há um pouco de passado, um pouco de futuro, e um pouco de consciência, de nosso próprio corpo, de cada uma das pessoas, da geografia da Terra, da direção da história, de verdade e de erro, de bom e de mau e de quem sabe quantas coisas mais?” (William Blake)
Self ou Si-Mesmo = percepção interior de um centro numinoso à suspender a necessidade de definir o lugar que o Self ocupa no espaço, isso ajuda a compreensão; pressentir uma energia divina é a experiência à o que vivenciamos internamente quando sentimos uma relação com a unidade, é o Self
Self, enquanto nossa essência, aquilo que realmente somos, seria aquilo que dá significado aos eventos de nossa vida. Se partimos do ponto de que há uma interligação dos mundos internos e externos, as coincidências desses dois mundos nas quais vemos significado, teriam significado atribuído pelo Self.
Há tendência para as coisas ocorrerem juntas. Se certo arquétipo está constelado no inconsciente coletivo, então certos eventos tendem a constelar juntos à Há uma conexão entre a sincronicidade e um arquétipo ativo no inconsciente coletivo.
Disse tudo isso, para na verdade chegar ao ponto de afirmar que há eventos em nossa vida que não se explicam causalmente, mas que podem ser compreendidos de outra forma, essa compreensão poderia surgir espontaneamente, sem nenhum raciocínio lógico. A esse tipo de compreensão instantânea Jung dava o nome de insight.
A sincronicidade depende da atividade da psique; quanto mais voltado para fora, racional, menos se percebe ou acontece sincronicidade.
Sincronicidade pode ter um papel central na individuação ou na maturação psicológica.
3 tipos de sincronicidade:
1.       Coincidência entre o conteúdo mental (pensamento ou sentimento) e evento externo. Exemplo: Paciente resistente, sua dificuldade era que pretendia sempre saber melhor as coisas do que os outros, muito racional. Depois de algum tempo tentando trabalhar isso pela via da razão, Jung diz que se limitou à esperança de que algo inesperado e irracional acontecesse, quebrando sua racionalidade. Um dia, ela contava um sonho no qual alguém lhe dava um escaravelho de ouro de presente (joia preciosa), enquanto contava, Jung ouve um barulho atrás dele, na janela, de um inseto batendo no vidro, com intenção de entrar, abre o vidro e é um besouro cuja cor verde dourada torna-o muito semelhante ao escaravelho de ouro. Ele estendeu o animal a ela dizendo “Está aqui seu escaravelho”. Isso abriu brecha no racionalismo, rompendo o gelo da resistência intelectual à este fato foi uma coincidência misteriosa, e este tipo de situação costuma atingir um nível profundo de sentimentos na psique à escaravelho é um símbolo egípcio do renascimento ou da transformação, “ele” precisava entrar na análise, com sua entrada pôde-se iniciar a transformação de uma atitude rígida, e um novo crescimento pôde ocorrer.
2.       Sonho ou visão que coincide com acontecimento que está ocorrendo a certa distância (isso é comprovado mais tarde): percepção do que está acontecendo sem a utilização de nenhum dos 5 sentidos.
3.       Sonho ou visão de algo que ocorrerá no futuro e que acontece.
Nos 3: coincidência de um evento real com um pensamento, visão, sonho ou premonição.
É o participante quem determina se as coincidências são significativas, através de seus sentimentos. Para compreender plenamente o que é um episódio sincronístico, talvez seja necessário vivenciar uma coincidência misteriosa e sentir as reações emocionais espontâneas.
Desta forma, adota-se uma atitude investigativa diante de um evento sincronístico, supondo-se que o evento tenha um significado que pode ser desvendado.
O que muda é que passamos a olhar para as coisas como símbolos, ou seja, como aspectos carregados de um significado profundo, que vai além da coisa em si.
Adotando essa postura investigativa, diante de uma ocorrência do acaso, nos perguntamos: “O fato é sincronístico?”; se a resposta for positiva, desejo saber seu significado.
Não olhar para os eventos, nem como vítima nem como culpado, mas se perguntar se o evento está dizendo algo sobre alguma situação interna em sua vida. Quando aceitamos a ideia de sincronicidade, qualquer acontecimento pouco usual é um convite para parar e pensar.
Estudos afirmam que sonhamos entre 6 a 8 vezes cada noite. Eventos sincronísticos ocorrem à nossa volta todos os dias, mesmo sem os notarmos à passei a perceber mais eventos sincronísticos enquanto preparava essa fala.
Vou agora dar algumas dicas de como compreender um evento sincronístico (também se aplica ao sonho):
1º: Averiguar a respeito do contexto emocional em que ocorreu. O que estava incomodando? Qual era o problema emocional que necessitava de solução? Como estavam as coisas, o ânimo interior e as circunstâncias exteriores?
2º: Ter a curiosidade de saber o que as pessoas, animais ou coisas envolvidas no evento podem significar e o que isso tem a ver com você.
As coincidências significativas sempre acontecem em momentos de transição.
Vamos começar a pensar agora, em situações sincronísticas em nossas vidas.
As primeiras que vem à cabeça são obvias, mas talvez nunca tenham parado para pensar nisso: nosso nascimento e nossa morte dão grande significado às nossas vidas.
Outros exemplos claros são a gravidez e o parto, que acontecem em seu próprio tempo, apesar de nossos desejos conscientes, esperanças, esforços e fantasias. Uma gravidez e um parto merecem nada mais serem chamados de sincronicidade: a coincidência do acaso de um dos milhares de espermatozoides encontrar um óvulo em especial, se desenvolver de determinada maneira e desse bebê nascer em determinado momento.
Trabalho
O trabalho ocupa uma posição central em nossas vidas e, como sempre, a sincronicidade aparece onde quer que haja – ou precise haver – maior compreensão da história que estamos vivendo no dia-a-dia.
Em várias das histórias de coincidências significativas na vida profissional, aparece a aceitação do fracasso que parece quase que necessária antes que se possa seguir em frente.
Espiritualidade
Nossa fé e religião também não deixam de ser eventos sincronísticos. Cremos naquilo que vemos e ouvimos e que se conecta diretamente ao que faz sentido internamente para nós.
Doenças e Acidentes
Conseguem pensar como doenças seriam sincronicidades?
A doença é uma manifestação física, que não é causada por um aspecto psíquico, mas tem total relação de significado com ele.
Relacionamentos
O amor entre duas pessoas é basicamente uma coincidência, duas vidas que se cruzam ao acaso à sincronicidade nas relações amorosas e de amizades.
Uma das características do acontecimento sincronístico é que ele é único, sem repetição, uma experiência única na vida, bem como os encontros.
Quando eventos sincronísticos acontecem em nossas vidas amorosas, podem funcionar de duas formas diferentes para atingir nossa consciência: as vezes contrariam a direção que escolhemos, mostrando algo novo a nosso respeito e nosso relacionamento; e outra, pode confirmar e consolidar um relacionamento sobre o qual temos dúvidas.
Pensando a partir desse princípio, podemos concluir que amor não é uma questão de pessoa “certa” versus pessoa “errada”, mas muito mais uma questão da nossa atitude interna e de como essa atitude cria um momento especial em nossas vidas, quando podemos encontrar uma outra pessoa em seus próprios termos.
Acontecimentos sincronísticos também acontecem nas amizades, pois a amizade também é sempre uma coincidência, duas pessoas se encontram e suas vidas se tornam entrelaçadas.
Todo relacionamento é um tipo de sincronicidade: um acontecimento único no qual um encontro externo entre as pessoas assume um significado emocional, simbólico e transformador.
 “O encontro de duas personalidades é como o contato de duas substancias químicas: se houver alguma reação, ambos sofrem uma transformação”. (Jung)
Algumas pessoas tem encontros sincronísticos nos quais o mesmo tipo de personalidade ou as mesmas figuras arquetípicas reaparecem continuamente.
A constatação de que “uma outra versão daquele personagem simbólico está aparecendo novamente” é uma ajuda. O reconhecimento do padrão é o início da sensatez, porque permite que alguém observe, em vez de ser puxado, independentemente de sua vontade, em direção à pessoa detentora de uma carga emocional específica.
Relação Terapêutica
Para que o processo analítico seja eficiente, é preciso também que haja uma profunda ligação. O relacionamento toca elementos do inconsciente pessoal e coletivo, tanto do analista como do paciente.
No processo analítico, parece frequente o analista e o paciente estarem num estado de transe leve, suave e compartilhado. Face a face, em cadeiras separadas, refletem inconscientemente suas posições corporais e gestos recíprocos, ao mesmo tempo que compartilham profundamente o material e os sentimentos.
Muitos encontros sincronísticos acontecem na clínica: os caminhos que a pessoa percorre até chegar até mim, um horário que se abre exatamente para que seja possível atender aquela pessoa à sensação de “inevitabilidade”. Esses encontros também são muito importantes para o terapeuta, contribuindo para o nosso crescimento.
O encontro é sincronístico não só para o paciente, mas também para o terapeuta. Jung considerava o processo analítico como algo similar à reação alquímica – para que um dos elementos se transforme no decorre do processo (paciente), o outro também tem de ser afetado (analista). Parece que meus pacientes passam pela porta de meu consultório acompanhados da oportunidade e da necessidade de trazerem a tona aspectos de mim mesma. Seja o que for aquilo de que eu ainda precise me conscientizar, seja qual for o calcanhar de Aquiles, seja qual for o meu momento crítico de crescimento, este chegará à minha porta sincronisticamente.
Hidrogênio + Oxigênio (gases) = água (terceiro elemento, líquido) à transmutação
Símbolo = 3º elemento do sistema terapeuta-paciente
Espaço-tempo terapêutico = campo de inter-relação dos sistemas terapeuta e paciente à esses sistemas entram em ressonância por meio das constelações simbólicas que vão ocorrendo ao longo do processo transferencial.
Campo terapêutico = campo simbólico por excelência; todos os fenômenos emergentes podem ser compreendidos no seu caráter simbólico.
Tempo aparece no seu duplo aspecto: Chronos e Kairós.
Transformações no campo terapêutico ocorrem em duplo sentido: no terapeuta e no paciente à toda transformação vai requerer um renascimento, um sacrifício de uma atitude dominante em prol da totalidade.
Se lembram de situações que foram percebidas como sincronicidade na terapia e que por fim trouxeram transformações?
O novo paradigma e a Psicologia Analítica nos propõem uma visão da prática clínica na qual terapeuta e pacientes estejam em relação de reciprocidade à interagem nos aspectos conscientes e inconscientes, formando um sistema em contínua transformação.
Seguindo o caminho do coração
Instrumento para a transformação individual: se uma pessoa pode reconhecer um problema interior ao ver o modelo refletido na situação exterior, pode então assumir a responsabilidade pela transformação.
Encontros sincronísticos = espelhos (refletindo de volta para nós algo de nós mesmos) à se nos transformarmos interiormente, os padrões de nossa vida exterior também mudarão
Escolher um caminho com o coração = aprender como seguir a batida interior do sentimento intuitivo
Grandes decisões = lógica + coração
Passado = vivo, atua como padrões de comportamento; quando ressignificado, possibilita novas vivências de presente e futuro
Futuro = à medida que nos projetamos no futuro abrindo novas possibilidades de vivências, resignificamos o presente e o passado
Eventos sincronísticos nos impõem uma verdade sobre nossas vidas que muitas vezes temos o hábito de ignorar: que o sentido de nossas vidas, a trama da historia da nossa vida, não é escrita simplesmente pelo que sabemos de nós mesmos, mas vem de um ponto muito mais profundo, da nossa capacidade humana inata de experimentar a totalidade vivendo uma vida simbólica.
Como vimos, as sincronicidades vem de formas diferentes, e, na verdade, não existe uma área de sua vida que num momento ou outro não seja tocada pelo acaso.
A questão é o que fazemos quando uma virada acidental do destino reorganiza nossas vidas e nos mostra algo que não esperávamos. Nós damos as costas e negamos sua veracidade? Ou encaramos aquilo que não provocamos nem criamos em nossas vidas com abertura de espírito, interesse e seriedade?  Conseguem pensar nisso?
É quase sempre impossível alterar o padrão de como as coisas acontecem no mundo exterior, enquanto que mudar aquilo que se vê como problemático na própria psique, apesar de difícil, é possível.

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